segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

Eu sei que vou te amar


Ontem passou o especial do Tom Jobim. Eu sei que vou te amar.
Aguardava ansiosamente o programa. Era a chance única de ver reunido na tv, e em rede aberta, a biografia musical de um ilustre vulto do cenário artístico nacional. Após dias de intensa propaganda, tive ainda, como expurgo de meus pecados, de assistir o BBB. Uma hora de um agradável culto à ignorância popular. Era noite de formação de paredão, e os Brothers mantiam-se tensos, sendo glorificados pelas piadas compradas e suspeitas que o Bial repete a seis anos. Assisti. Confortavelmente entrelaçado nas pernas de minha irmã atenta, apreciando cada reviravolta do programa. Que variava, fatalmente, da cama, pro sofá, pra cozinha e pra piscina, sofrendo ligeira mudança, vez por outra, pro quarto da líder, que pelo o que vi, essa semana era uma loira chamada Fani. Carinhosamente ou não, Fani.
Fiquei satisfeito quando finalmente o paredão se fez. Dois condenados sofriam a alegria geral de eles serem a bola da vez, enquanto os demais desfrutavam de justificável alívio. Iria agora começar o Tom. Como sabia que um programa desse nível iria ser empurrado pra madruga, preveni-me. Dormi a tarde toda, tendo sonhos com um Rio boêmio e suas garotas míticas de Ipanema.
Durante a meia hora que se arrastou, o programa foi um desfile de grandes nomes da música mundial. De Roberto Carlos a Frank Sinatra. Todos estavam ali. O Tom parecia maior. Parecia muito mais um gênio do que a identidade esquecida que a sociedade admitiu. Pareceu muito mais interessante que nossos ídolos atuais. Ponderei que poderia haver uma tênue diferença entre o Tom e seus amigos, com os nossos amigos. Latino, Tati, K. Key, que encabeçam a lista de nossas rádios. Talvez seja apenas impressão minha, pois os tempos mudaram. Hoje a festa não é num boteco, no meneio do mar, é dentro do apê, como uma barbie girl, cantando reiteradas vezes sua melodia de amor platônico.
O programa foi bom. Diversas marcas de cigarro e um curioso cachimbo à La Roberto enfumaçaram a noite. Foi meia hora. O tempo preciso de uma vida. De alguém que o Brasil exportou para o mundo e para a eternidade. O BBB foi uma hora. Certamente o resumo de um dia na casa sugere mais conteúdo que as teclas ligeiras do piano de Tom. Ou que as canções de Tom. Que a flauta de Tom. Que a Elis de Tom. Que as garotas de Tom. Que o Rio de Tom. Que o Tempo de Tom. Que a falta de Tom.

Abaixo segue o trecho surreal de uma mente musical:


Vou te contar

Os olhos já não podem ver

Coisas que só o coração pode entender

Fundamental é mesmo o amor É impossivel ser feliz sozinho

O resto é mar É tudo que eu não sei contar

São coisas lindas

Que eu tenho pra te dar

Vem de mansinho a brisa e me diz

É impossivel ser feliz sozinho

Da primeira vez era a cidade

Da segunda o cais e a eternidade

Agora eu já sei

Da onda que se ergueu no mar

E das estrelas que esquecemos de contar

O amor se deixa surpreender

Enquanto a noite vem nos envolver

Wave

Um comentário:

Anônimo disse...

Infelizmente eu não pude ver esse especial!
Mas realmente é muita sacanagem a mídia, em especial a Globo, dar tanto valor as porcarias instantâneas e fazer pouco caso com a verdadeira cultura!
Agora não sei qual eh a sequência! Se é o povo brasileiro que fica na frente engolindo porcarias por costume, ou se a mídia atende a "demanda" de lixos!!


Bjos