domingo, 30 de setembro de 2007

10 coisas que ODEIO em mim!






SOU HONESTO DEMAIS. Não que seja defeito, mas a possibilidade de estar em dívida com alguém, amigo ou inimigo que seja, me é uma imensa tortura. Pago sempre. Perturba-me agora saber que estou devendo a alguns; são centavos, mas ainda sim uma dívida. E pagarei. Odeio isso porque eu deveria ser com muitos: caloteiro! - que nunca me pagam.
NÃO PRATICO ESPORTE. A falta de músculos me incomoda. Desconhecer uma academia por dentro, ou como se chuta uma bola me faz angustiado. O sedentarismo me faz magro e só. E toda vez que vou comprar uma roupa íntima tenho de repensar essa condição: tenho de bombar!
LEIO DEMAIS. Eu gostaria de ter tempo de assistir TV. Nem sei se sou exigente, mas adoraria ter o prazer inocente de assistir Faustão e Gugu. Descobrir a delícia que as pessoas a minha volta desfrutam. Mas os livros não permitem. Sempre há letras demais na minha vida.
CANTO. Não deveria - eu sei, acompanhar as músicas enquanto são executadas. Pega mal, eu sei, mas insisto. Se eu tivesse algum senso musical ou mesmo uma voz compatível, creio que me perdoariam, mas todos me condenam. Mas um dia eu paro. Por mudez ou assassinado.
CRIO HISTÓRIAS. Às vezes é bom, deixar alguém perplexo, entre a verdade e a mentira. Mas na maioria das vezes é nocivo. Muitos acreditam até hoje que sou filho do Elvis e que fui abduzido uma vez. Eu mostrei cicatrizes e fotos, e fica chato desmentir depois....
NUNCA ME ENTUSIASMO. Algumas pessoas esperavam que eu desse pulos de alegria ou mesmo gritasse com o mundo. Mas o marasmo dessa existência curta me impede de ser inocente e entusiasta. Não sou apático. Mas quando uma mulher bonita me passa o telefone eu não compro uma aliança.
NÃO REPASSO CORRENTES. Sei que as crianças faturariam se eu repassasse o e-mail, e se eu considerasse realmente uma amizade, eu deveria ter o cuidado de devolver a mensagem, mas não. Reluto em ser o elo perdido, quebrado da corrente. Acaba ali, qualquer ilusão, qualquer expectativa, na minha caixa de entrada.
GASTO DEMAIS. E me arrependo. Mas tudo é caro nesse país. Eu podia aderir a pirataria e consumir tudo da China. Trajar-me com roupas feitas do Vietnã e freqüentar a 25 de março. Mas o dinheiro vale tão pouco, ainda mais quando se tem pouco! Mas que é a vida senão uma visita ao shopping!
SOU SOLÍCITO. Eu deveria ser vendedor: “PRESISA DE ALGO?” Sofri demais por ser bom, meio idiota. Ser amigo e leal, ajudar a estranhos e imerecidos. Mas fui cristão.
A décima coisa, vou deixar pra os que me conhecem, ou para os que me repelem, certamente há tantas moléstias que a lista não teria fim. Mas que seja assim. Como sempre eu soube ser.

Esse post é um atendimento – tardio- de minha estimada Li do http://canecadecha.blogspot.com/.

domingo, 23 de setembro de 2007

Exagera.

“Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim como em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.”
Fernando Pessoa

E, estando Jesus assentado defronte da arca do tesouro, observava a maneira como a multidão lançava o dinheiro na arca do tesouro; e muitos ricos doavam muito.
Vindo, porém, uma pobre viúva, deitou duas pequenas moedas, que valiam meio centavo.
E, chamando aos seus discípulos, disse-lhes: Em verdade vos digo que esta pobre viúva deu mais do que todos os que deitaram na arca do tesouro;
Porque todos ali deitaram do que lhes sobejava, mas esta, da sua pobreza, deitou de, todo o seu sustento.
S. Marcos

domingo, 16 de setembro de 2007

o Toque azul!


Uma das minhas sádicas aventuras secretas na atualidade é procurar estranhos no Bluetooth. Desde que descobri os recursos dessa interessante tecnologia, venho utilizando-a com compulsão. É quase um vício, meio obscuro, um tanto azul, como os quadros de Picasso.
Confesso toda a delícia de clicar em “Procurar” no meu aparelho e ver surgir, como um passe de mágica uma lista considerável de seres desconhecidos. Começou tímido, o hábito, por curiosidade, a título de aprovação. Era como um silicone recém implantado: só tocando pra ver. No caso, um toque azulado.
Daí perdi-me na compulsão. No ônibus, rua, restaurantes, por onde eu ia, eu tinha de consultar os aparelhos alheios, em inglória procura. Já achei de tudo, também. Desde a Gracinha,Lobão e a Superpoderosa, até o mais recente, o “Betinho tatoo”. Até hoje me pergunto o que significaria alguém no ônibus com o apelido: “Topa td por dinheiro”.
Eu não estava só, e instigado pelo grupo, voraz, insisti na busca. Entre as vermelhas mesas do Mac Donnalds, olhávamos em busca de qualquer sinal; seja de carisma ou de desaprovação. Suspeitei de um. Um sujeitinho mal encarado, acompanhado da namorada. Não tinha nenhuma tatoo visível, o que me fez mais desconfiado. Aonde Betinho teria escondido seu desenho da pele? – filosofei. Nem insistir em descobrir.
Apelamos, então para a gritaria. Aos berros indagávamos: Betinho, cadê você?! Porém nenhuma resposta foi ouvida. Ou ele não ouvia, ou estava com a boca cheia de picles e mostarda, ou pior..... o Betinho era......


P.S.: Se você quer saber quem matou Tais, ou tem uma sugestão para esse final, comente.

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Vai de táxi!


O tom imperativo dos usuários de micro ônibus de São Paulo me assusta.
Como todos sabem, esses pequenos coletivos são os remanescentes das antigas “Peruas”.
As vans clandestinas que rodaram por muitos anos na capital. E como descendentes diretos, alguns costumes, como costuma acontecer permaneceram. Engraçado como a sociedade cria preceitos e são seguidos por um tempo e por um povo, mesmo depois da invalidade destes. Conta-se que em Roma, as pessoas ainda curvavam-se em honra ao Imperador, mesmo depois de muitos séculos da derrocada do Império.
Hábitos, como gritar o trajeto da lotação, mesmo havendo uma placa indicativa. A presença irreverente, quase lúdica do cobrador; a vontade insana de correr, saltar sobre lombadas, matar pessoas e concorrer com ônibus. Mas a principal herança que as ancestrais Kombis nos deixaram foi a flexibilidade de desembarque, ou seja, você pode descer onde quiser.
Sou totalmente contra, afinal lugar de parada é no ponto, mas enfim. Às onze da noite, em frias noites e em lugares obscuros, eu perdôo. E confesso que até faço uso desse artifício prático. Mas alguns excedem-se. Qualquer lugar se torna referência de parada. “Escadinha desce!” Como assim “escadinha desce”? Orelhão, por favor, clamam os educados. E daí varia-se: lombada desce, pixação a frente desce (???), no toldo azul, no cachorro a frente, desce; na esquina, na valeta, na fiação, na viela (EU!rsrsr). Daí o infeliz do motorista tem de decorar todo o percurso e suas variantes. A incidência da luz e as fases lunares influem um pouco. E quando ele, contudo, esquece de parar no local indicado, do fundo vem um grito aterrador: na escadinha, idiota! E vários xingamentos são expelidos. Me perdoem as feministas, mas as mulheres são as mais escandalosas. Tem uma loira que invocou até a mãe do motorista. Imaginem como. Uma noite, ouvi a até a palavra caralho, invocada com ira. O ofendido, calado, resigna-se.
É tão passivo quanto eu, no banco. Ele rememora o caminho a ser seguido e as possíveis paradas, uma alusão a jornada da vida e, eu, sugestiono, em silencio, apaziguador: “vai de táxi”!

sábado, 1 de setembro de 2007

o Tique.


Eu havia lhe prevenido. Aquele tique o colocaria em problemas. Era o emblema que colocava. Não admitia os riscos que uma piscadela poderia conter. Eu sabia de seu hábito espontâneo de picar ligeiramente, pelos cantos. Mas era tique. Era repentino e traiçoeiro. Não escolhia direções ou horizontes. Agia. Fazia de tolo, os desavisados e de furiosos, os imprecavidos.
Não escolhia sexo, idade ou humor. Piscava, apenas. Desde a epigênese da infância e desenvolvera-se de forma tão natural, como algumas adjacências na puberdade. Se não lhe contassem, não perceberia. Como um daltônico diante da revelação do azul. Havia inocência e certa negligência.
Tal imprudência, contudo, teve seu merecido fim. Piscara para a pessoa errada. O metrô paulistano desenvolve todo tipo de ser. Desde os indiferentes e soturnos, até os solitários e suicidas. Foi um desse que encontrou. Sua cabeleira espetada, vermelha viva, pela ação da Koleston chamava a atenção, é verdade, e quem se atrevia a admirar, acabava iludido pelo tique involuntário. Mas piscara pra um poeta, um amante. E foi um crime. Acabou em suicídio, platonicamente.
Eu disse que disse que aquela estranha mazela o condenaria. Já apanhou, beijou, bateu, sorriu, amou, ignorou e foi recebido com calorosos dedos anulares e xingamentos. Mas ele não creditou-me. Afinal, que vale o conselho de um amigo, cheio de critérios!