segunda-feira, 14 de maio de 2007

Beleza Interior


O que importa é a beleza interior, ouvi reiteradas vezes. Também repeti muitas outras na vã tentativa de dar crédito ao dito. De fato, o que vale é o exterior. Mas não sou quem o digo.
Garotas ignoram garotos feios, e garotos disputam garotas bonitas. É uma lei. Pessoas de melhor aparência ganham mais e estão em melhores cargos. Os belos recheiam novelas, filmes, e comerciais de todo tipo, dificilmente indivíduos dos subúrbios fora dos padrões sociais são vistos na mídia. “Agora não, Márcio” - é o chavão quando desponta algum feio no programa da Record. E é fácil de descobrir a razão.
A indústria da beleza sobrevive da depressão das pessoas. Gordura, magreza, estrias, nariz grande, rugas, espinhas, celulite são crimes imperdoáveis no padrão estético imperativo. Negras tem de alisar os cabelos; magras tem de turbinar os peitos e homens tem de bombar na academia. São horas infindáveis sob o sol e dias inteiros malhando. Apresentadoras e atrizes tem de se submeter as mais engenhosas cirúrgias pra corrigir a ação implacável do tempo. Todas querem a boca da Angelina Jolie, o nariz da Nicole Kidman e o bumbum da Juliana Paes.
Todos querem parecer outra pessoa. Os feios sobram nas festas, nas baladas são alvos de piadas, são desprezados no shopping. Só serão amados se tiverem rostos e corpos como os da revista. “Emagreça em 5 dias; queime gorduras; depile-se; alise, retire; ponha” é a ordem geral.
Aqueles que não desencanam ou desistem vivem amargurados esperando o dia que serão como os ídolos. A feiúra é um castigo! – pensam. As belas são temas de poema, de música. São fotografadas, pintadas em quadros e se tornam capas de revista. Não sobra espaço aos feios. É a maldição dos genes. Conheci gente que se matou por causa de uns culotes, calos, cabelo armado e dedos tortos.
Talvez ainda lancem um creme, um aparelho, dieta ou método que tornem todos em deuses, modelos. Enquanto isso, é viver lamentando-se. Pois, como dizem, me perdoem os feios, mas beleza é fundamental.

sexta-feira, 4 de maio de 2007

Dá um trocado aí!?


Quem mora em São Paulo concordará. Quem não mora, também.

Ontem, na facu, apareceu uma senhora, jovem, acompanhada de uma criança. Os dois nos abordaram e levei o maior susto. Aquela hora da noite só podia ser assalto, já estava dando adeus ao meu celular novo! Ainda a estranha resmungava ter sido mal tratada por alguém. Feliz ou infelizmente não era um assalto. Ela queria dinheiro. Ostentava uma receita médica na mão e jurava que o menino era tinha bronquite. Como sou um tanto cético aos pedintes, ia pedir por garoto dar uma tossida, mas hesitei.

Deixei a moça terminar seu discurso e com todo meu espírito cristão, contribui. A senhora beijou-me os pés, deu três cambalhotas, rebolou e partiu, radiante.

Esse foi só mais um caso em sampa! Quem anda de ônibus, trem ou metrô concordará que esses meios de transporte estão virando meios de sobrevivência. Mulheres com crianças famintas; idosos exibindo feridas na perna, mendigos mal cheirosos e uma infinidade de tipos que se repetem. Nas ruas, nas portas dos bares e nas praças, em todo canto.

Antes de entrar em qualquer boteco, pra comprar um chiclete, que me dará dor dente, olho pros quatro contos pra ver se não tem uma criança de rua que me pedirá um trocado. Evito certas ruas e regiões, mas é inevitável....

Quando vou sair de casa, tenho de pensar no dinheiro pra passagem, pro lanche, pros imprevistos e claro, pros necessitados. E uma boa soma. Pode-se encotrar dezenas deles numa breve saidinha. Nem vou na padaria mais. Como alegar falta de recursos se você é flagrado na saída de um comércio? É um golpe, afinal! Armação! Uma conspiração. Uma revolução dos mais necessitados contra aqueles que levam mixarias no bolso.

Por isso, agora, seleciono a quem irei ajudar. Faço entrevista ou sorteio; concurso ou jogo de perguntas! Analiso as roupas, o estado do cabelo e uso a máquina de detectar mentira. Se não fosse assim, no final do dia, quem pediria esmola seria eu!