quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

2000inove?


Diferentemente dos Estados Unidos que comemoram o Ano Novo, o Dia de Ação de Graças e o 4 de julho, no Brasil só temos uma queima de fogos e ainda assim como as chuvas de inverno: apenas em pontos isolados. Dizem que o maior Reveillon do mundo é o de Copacabana e somente na Rocinha há mais pipocos e rojões.
O ano de 2009 é o penúltimo da década - o que me provoca tremuliços - e promete ser o penúltimo de muita gente. Estima-se que a fome e o Fome Zero, a Suzana Vieira e Santa Catarina não existam até o fim da década se as coisas continuarem nesse pé. Prevê-se também que a Dutra desapareça, já que São Paulo e Rio crescerão tanto, impulsionados pelos shows da Madonna que eles se dêem às mãos finalmente, como na pintura de Michelangelo. A desvantagem é que um tiro disparado em Ipanema pode implicar numa bala perdida, tanto na Lapa de lá ou quanto na Lapa de cá.
É bem possível que o Ronaldinho marque gols, dissolvendo a crise econômica mundial, ao demonstrar o pleno trunfo dos cartolas do futebol brasileiro, o que significaria a valorização do Real frente ao Euro e uma pontada de inveja no real Madrid.
Provavelmente a China se torne a nação mais poderosa do mundo, ou pelo menos a mais poluidora, o que seria uma tragédia, não pela emissão mortal de carbono, mas pela falta de escolas de mandarim no mundo. O Obama falaria e ninguém o ouviria, e como seu antecessor, usaria de métodos mais hostis e bombásticos pra suprir sua carência, e não seria no Iraque. Acho que a Carla Bruni posa nua novamente, já que a França sempre foi liberal e lá o presidente come muito bem.
Mas antes, muito antes de tentar qualquer incursão na língua Chinesa, ou uma viagem proveitosa nos ensaios eróticos em francês será preciso reconquistar aquilo que pensávamos que tínhamos pleno domínio: o português. As novas regras ortográficas vêm para destituir nossa soberania como nação e quem sabe nossa tirania como brasileiros. Nunca mais estaremos convictos de um acento, da irmandande de dois “erres” ou da procedência de um hífen; salvo a crase, que se mantém intacta como a corrupção em Brasília. É a obsolência da Era da Imprensa, de Guttemberg, já que tudo o que se imprimiu até hoje será anulado e precisará ser reeditado, causando calos e tendinite nos letrados, de uma forma geral e a final aceitação que desconhecemos nosso idioma e somos um país de analfabetos. Talvez a Igreja intervenha e queime os livros de uma língua lusitana retrograda e profana junto com as bruxas. Talvez queimem só as bruxas e as profanas.
Por precaução, em 2009, guardarei meus versos arcaicos de Bilac e as fotos ousadas da Primeira Dama sob a cama.


P.S.: O Ano de 2008 foi do Escorpião e do Escorpião somente. Tatuado na barriga e no coração.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Eu sou o Grinch!


Eu sou o Grinch e não ligo pro Natal. Todo esse estoque de comida, como se fossemos viver um ataque nuclear e a essa concentração de gente em volta de uma árvore me cansa seriemente. É o dia do ano em que menos como e bebo. Recluso-me em algum recinto sereno e calmo.
Evito até os shoppings, esses templos de concreto e consumo que ficam demasiadamente nocivos nesta época. Cheio de crianças em busca de presentes e adultos a procura de soluções.
É claro que adoro as decorações nas ruas, repletas de luzes piscantes e um pouco de cultura e contemplo satisfeito, sem pensar em quantos graus a terra vai aquecer com isso. Sem considerar quantas crianças passarão fome e quantos quilos de carne deixarei de comer. Gosto dos presentes e dos sorrisos, mesmo tendo de pagar por eles. Papai Noel já num me ilude mais, há muita compreensão em mim. E aqui nem neva, só esse sol que nos queima os miolos e essa chuva que a tudo aterra.
E de tudo o que mais odeio no natal é que ele precede a passagem de ano, é como se nossos corações se preparassem pro fim eminente. É a analogia do noivado na vida sentimental, que nos concede a chave que nos levará para um começo sem volta. O ano novo é um saco, só é aprazível e bem vindo se o ano velho for terrível e você não agüentar mais. É o chamamos vulgarmente de esperança.Mas o mais chato do natal são os embrulhos, sempre os embrulhos. Há bastante intenções de paz, amor, alegria e sinto-me nostálgico em certos momentos e acho que é o efeito do espírito natalino, mas o que estraga tudo são os embrulhos, há muitos deles no natal, definitivamente. Mas um pouquinho de amor ou solidariedade já justificam tudo, já um pouquinho de saúde, um descanso na loucura.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

the life in technicolor




Hoje põe-se uma vela a mais no seu bolo technicolor.
Mesmo sabendo tão pouco a seu respeito, sei que minhas madrugadas nunca mais foram as mesmas, nem as manhãs tão pouco. Que a tristeza e a melancolia pudessem ser tão coloridas, e que a solidão pudesse ser tão cômica e confeitada, como uma película feita em technicolor pelos melhores cineastas.
Aprendi a delícia de manter uma vida em superlativos, finississimamente; bebendo na mesma proporção, colecionando histórias nos porres sucessivos.
Iludindo-se e desiludindo-se sempre, com amor virginal e intenções menos puras, que sempre começam nas segundas e terminam em alguma décima... sendo confundido com os mais loucos devassos...com os amantes mais profissionais ou com a vitima mais próxima...
Mas que se revelou graciosamente como um tio exemplar e um primo queridíssimo.




para R.V.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

trouble slepping


É tarde e me sinto cansado e estou tendo problemas pra dormir. É essa constante necessidade entre respirar e pensar. Viro-me levemente pra esquerda pois me cansei de novo. Sinto o calor subindo pelos lençóis amarrotados e dispersos, chegando ao travesseiro que já foi ao chão. Está cada vez mais claro o escuro desse quarto, mais sonoros os mínimos ruídos na casa ao lado.
Surge uma TV na sala, um pouco de passos num piso de tacos da década de 50 e as baratas no chão e me incomodam muito. Não levantarei novamente pra tomar água, esvaziei a bexiga e não há nada para ler. Os braços descansados do relógio trabalham cada vez mais lentos, sinto-os girando nessa roda sem graça e infinita. O tempo não passa. Da mente vem um turbilhão de idéias que nunca cessa, misturando todos os assuntos com problemas com dilemas com memórias com sonhos que sonho acordado. Sinto o início de dor na lombar, é hora de virar-me novamente.
Lembro que esqueci de ligar o despertador. Levanto duvidando se é necessário. Recuso apelar para qualquer recurso medicinal, não tomo nada. Eu poderia estar insone por vários motivos, e deveria culpar muitas pessoas; só não diga, por favor, que estou me apaixonando.

Eu já vi esse filme. Vou desligar de novo. Está cedo agora. Alguns galos cantam no terreno baldio. A vizinha prepara o café e bate nos filhos; ele estão atrasados de novo. Meu jornal chegou e só lerei a resenhas dos filmes da semana.

Estou com o mundo sobre os olhos e sonolento; feliz porque ainda tenho um pouco de creme anti-olheiras.