terça-feira, 27 de maio de 2008

Corpo de morte



No íntimo, um pecado me atormenta.
Um desígnio profano o alimenta.
Realiza o mal, averso ao pensamento;
Anula o bem que em meu ser intento.

Quem me livrará desse corpo de morte?
Infame, somente ao oculto se reporte,
A luta, no âmago, que a consciência abate
E a virtude gloriosa prostrada nesse embate,

Fenece. Vencida pelo desejo vil;
Ignóbil que me condena,
A morrer e a perder a vida,

Por uma vontade insana que me convida
E ao recusar-me me ordena
A ceder-lhe, e entrar em seu covil.

domingo, 4 de maio de 2008

Terrível!

Chovia muito e cheguei atrasado à aula. Precisava de atendimento urgente e imediato e a longa fila de desanimados me exigiu uma medida prática. Cheguei às barbas do idoso professor e perguntei: Onde preciso me sentar pra ter atendimento VIP?



Nunca simpatizei muito com ovos, fígado de boi e quiabos. O cheiro de ovos recém partidos me incomoda bastante e a simples visão de uma galinha choca me causa frescuras, mas sem gravidades. Recentemente desenvolvi uma estranha antipatia por abobrinhas, mas isso é irrelevante. É bem verdade que elegi coisas mais detestáveis que um punhado de gosmentos legumes.

Entre as poucas coisas que a vida me mostrou odiosa - e sinto que não sou o único -, figuram duas palavras imensas: adeus e perdão. Afinal, somente as palavras são importantes, não é mesmo. Diz a música que adeus parece ser a coisa mais difícil no mundo a se dizer. Vacilo nas duas.

Muitos mortos morreram sem minhas despedidas vãs – de que valeria? - e muitos partiram sem meu rosto ver. Visitar pessoas convalescentes sempre me constrangeu, mesmo as mais queridas. Nunca me senti à vontade para fazer um enfermo rir; e se de fato não posso fazer alguém rir, não estou à vontade; é inerente. Toda despedida se torna uma cerimônia e um emblema. Às vezes a omissão basta, pois nada alivia o fato inexorável da partida, quase sempre sem volta. Já tentei dizer adeus e gaguejei, tentei partir e tropecei. Dos que se vão, poucos conhecerão os meus adeuses.

E me desculpem, mas falarei da outra palavra depois.

P.s: até hoje, felizmente, continuo sem a resposta à minha interrogação.