sábado, 26 de abril de 2008

Postagem enjoadinha


Amores... amores?
Melhor não tê-los,
Mas se não os temos,
como sabe-los?
Se na bagunça,
Se no silêncio
Como os queremos!
Dão prejuízo,
Fazem chantagem,
Criam esperanças
E desfazem teus sonhos.
Brincam contigo,
Pedem carinho,
Desviam o caminho,
Como pequenos muros,
Te deixam na linha,
Te pedem perdão.
Resultado: reconciliação!
Depois vêm as noites em dupla
Os parentes te abraçam,
O cheque na praça,
Depois é de graça,
Depois é tensão.

Amores???
Melhor não tê-los
Noites de insônia – de amor
Cãs prematuras – matrimônio
Prantos convulsos – saudades!
Livrai-me Deus!
Amores são foda.
(Em sentidos vários)
Melhor não tê-los
Mas se não os temos,
Como sabe-los.
Como saber
Que brilho nos seus cabelos
A cada hora do dia
E que cheiro morno
na sua carne
Recém banhada.
Que gosto doce
Na sua boca!
Te abraçam, te apertam,
Te dizem adeus.
Voltam, te abraçam,
Te apertam, nos dizem.
Já vão.
Porém, que coisa!
Que coisa linda,
Que coisa louca
Que os amores nos são.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Um gato morto.


Ontem morreu em meus braços um gato cinza. Era estupidamente burro, o gato. Seguia pela calçada, com andar tranquilo e olhar displicente; de repente, atirou-se loucamente no meio da rua hostil. Talvez fosse somente um gato suicida, o que me causaria mais espanto, além do motivo óbvio. Minha intenção não é criar suspense, dramatizar ou esconder o fato irrefutável que o bichano morreu. Estupidamente.


Desviou-se da virtude de seu caminho seguro e lançou-se em baixo de um carro preto. Nem era importado, nem corria muito. Na verdade vinha devagar, parecia dar uma chance ao pequeno. Olhei e vi como o gato girou de baixo de duas rodas. Foi um espanto, ver alguém morrer assim, como numa tragédia.


Como em toda desgraça, eu era a única testemunha. Clamei por ajuda, mas a única que viria seria a minha, incauta. Nunca tinha tocado um marimbundo antes, mas a visão daquele animal estirado no chão; a boca a escorrer um filete de um sangue escuro, o corpo trêmulo, e a voz falha, a pedir misericórdia me fez querer atendê-lo. Pareceu-me profundamente arrependido, e tinha motivos. A roda lhe fez um estrago considerável.


Foi por estar ainda vivo que o tomei em minhas mãos. Nunca reparei na fragilidade óssea dos felinos e não parecia com nada mais que um monte de delicados cacos. Aqueles olhos, profundos e rotos a me mirar; um peito arfante e as pequenas patas agarradas.


Com minha mão o transgredi em seu momento fúnebre. Perdera o veludo. Oco, torpe , rude e torto. E a visão permanente de seus caninos estáticos, pálidos, cálidos, me fez concordar com Vinicius, num momento trágico, que nada parece mais com o fim de tudo que um gato morto.