segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Que será a divina pena que me condena a te ligar?


Há uma intensa troca de mensagens tolas pelo celular.
O verve de uma conversa comum dura horas e o msn ferve.
Desligo e o telefone toca.
Recomeçam.
Mais uma mensagem. Só risos.
Estão a cinco minutos separados e já pensam como sobreviverão aos próximos cinco sozinhos.

Trabalho facu a bronca do pai dívidas no fim do mês Ela almoço Ele Ela o show do C.P.M. Ele Ela a faxineira Ela a viagem de fim de ano Ele Ela Ela Ele. Brinca a mente, recorrente.

A dúvida inconfidente não é se ligo ou deixo de ligar. Mas se ligo, mando mensagem; cartão ou presente; se visito, surpreendo; abro o Orkut ou convido pra um sorvete de papaia com cássis numa tarde sem sol.
A romântica música sempre convida a imaginação, sempre volve os olhos para os mesmos leitos de abraços.
Que quererá comer, que filme veremos, que beijo teremos, que noite faremos, esta noite.

Respondam-me, que pode isso ser!

sábado, 26 de janeiro de 2008

A felicidade sempre está


A felicidade sempre está na esquina oposta. Vem sempre no caminho contrário, ortodoxo aos meus passos. Passa de relance, sem chance de volta. E essa dúvida me revolta e poupa o tempo. O tempo do amor, que passa, na contramão, na via errada; em paradoxo no rosto incrível; no caminho inverso a qual eu estiver.

domingo, 20 de janeiro de 2008

Rosa.


Disseminou-se longamente o uso da cor rosa nas vestimentas masculinas. Antes absolutamente proibitiva e cheia de pretensões, revelando orientação sexual e escolha religiosa, hoje é vista até mesmo em roupas íntimas.
Comprei uma linda gravata rósea, para ocasiões especiais e os dias áureos. Era da mais pura seda italiana, tecida nas melhores oficinas de Milão, de um rosa discreto e elegante. Casava perfeitamente com uma camisa que mantenho, da mesma cor. Sempre arrasava nos eventos sociais e nas festas mais badaladas, quando as usava. as garotas adoravam. Ficava sensual.
Num curioso dia dei falta da custosa gravata no guarda-roupa. Procurei na lavanderia e até mesmo por entre as cuecas de lycra, sem sucesso, entretanto. Fui então a procuradora de meus bens elementares: minha mãe.
Questionei-a sobre a referida peça, que muita estima me causava; se conhecia seu provável destino. Ela se fez de desentendida, negando conhecer a tal gravata. Insisti veementemente, despetalando detalhes e preceitos. Lembrou-se, então, vagamente de uma que havia doado para um amigo carente.
- Minha gravata de 150 reais! – exclamei atônito.
Subiu-me a boca um desespero incontido, uma angústia profunda, que só extenuou-se após o terceiro desmaio... Sabia que qualquer xingamento não traria minha rosadinha de volta, como se vê nos velórios. Desmerecia o piti.
Conformei com essa falta e traição, abdicando de minha camisa favorita. Sei que agora estou aquém da moda, renegado a usar cores ultrapassadas e sem estilo. Hoje perdi a confiança nos cuidados maternos e vivo desconsolado, imaginando que outro está provando do meu mel.Hoje nem sei se comprarei outra, ou se desisto da vida. O namoro entrou em crise e fugi de casa três vezes. Só não cedi as drogas, que ao contrário de minha gravata, estão fora de moda.

domingo, 13 de janeiro de 2008

Porco!

Quando nasceu não puderam nomeá-lo. Chamaram-no simplesmente de Porco. Tem todas as características suínas, mas não se sente como tal e não admite. Irrita-se e não atende.

Seu focinho, seu rabinho retorcido e suas cobiçadas costeletas são de porco. Mas ele não se apraz da lama como os demais e nem de restos humanos, quando se lançam no chiqueiro. Sempre preferiu o silêncio e a solicitude de um animal útil. Gostaria de participar em outras atividades do senhorio, de ser chamado de amigo. Mas o chamam de Porco, simplesmente.

Ele não corre muito, nem tem o olfato desenvolvido. Tem uma visão deficiente e tende a ser visto como prato de festividades. Nunca se olhou no espelho, mas sabia. Não era – definitivamente – um suíno. E nem poderia.

No entanto não entendia como o mundo assim o via. Tentou, sob todas as possíveis formas convencê-los do contrário e ser querido um pouco. Mas era um querido porco.

Após tantas e tamanhas tentativas deve seu devido esforço retribuído.

Uma escura tarde, estando solitariamente entre os pastos verdes, foi surpreso. Nem pôde ver quem o suspendera no colo e nem mesmo teve reação de gritar quando a lâmina afiada transpassou-lhe o pescoço nu. Não sentiu nada.

E, naquela tarde, redimido pela morte, recebera nomes diversos. Não poderia, mas ficaria feliz se ouvisse.
Bacon. Toucinho. Costeletas. Pernil. Lingüiça. E tantos outros, menos Porco, que o entristecia tanto.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

As mágoas de agora



Hoje sei a razão de Casimiro sentir tantas saudades da aurora de sua vida, de sua infância querida que os anos levaram e nunca trarão mais. Eram tempos ditosos, de eternos mimos, sem as muitas preocupações de hoje. A vida seguia o curso manso de um rio tênue e desaguava na lagoa finita das vicissitudes pueris.

Quem sobreviveu à crise interminável da adolescência e os súbitos suicidas da puberdade haveria de encarar as preliminares da vida adulta – a juventude – como a volta dos anos serenos de outrora. Mas há sempre surpresas.

As mágoas de agora, como as conhecemos e nos impõem – a necessidade do sustento e a ganância pelo dinheiro, as futilidades de uma noite dançante, a busca incessante do eterno amor, e as pacatas disputas de um cotidiano que vai durar muito ainda - declaram que algo mudou. O barulho das guerras, e o desemprego. A morte e a paternidade. A crise aérea e a corrupção. Os palestinos e os skinheads. A moda e a nudez. As contas e as compras. Ai que saudades.

Quem nunca colheu mangas ou repousou à sombra das bananeiras haverá de comprá-las agora. Escolher os melhores frutos e dá-los aos filhos; do suor recém descoberto, da labuta ainda em face aprendizagem. São novas tardes, raramente fagueiras; os céus continuam lindos, nas noites insones e as manhãs, mais curtas, nos despertam ainda cheios de manhas.

O mar é de ressaca, o céu um manto poluído, o mundo uma oportunidade dourada, e a vida um hino de amor – a ser entoado. E é preciso olhá-los com desvelo e ao futuro com simpatia.

E então quando em questionamento, nos surgir a dúvida sobre qual FOI o melhor ano de nossa vida, pensemos em 2008.