domingo, 15 de junho de 2008

Adônis ambíguo


Havia pinheiros, acredito, em volta de Adônis e de seu templo grego; e em seu leito, a cada manhã, rescendia o cheiro morno de seus amores noturnos. Bem dotado de extrema beleza e conhecido como incansável amante, desde cedo o pequeno Adônis despertara suspiros e discórdias por entre os corações desavisados. Angariava admirações diversas e por tantas vezes as dispersava que a singela grandeza de seu encanto anulava em que cada caso sua indiferença e seu desdém pelos sofrimentos alheios.
Era tão belo, os cabelos um tanto loiros e um tanto desgrenhados; se falando, se calado, por muitas vezes e tão atrativo o mistério de sua presença que Afrodite, a deusa do Amor rendera-se aos apelos amorosos do rapaz e o tomou para si. Tamanho era seu feitiço e provido de singular graça que somente aqueles cujos os olhos tiveram o privilégio de pousaram sobre si podiam elogia-lo com propriedade. Como o desconheci eu paro nesses termos.
A verdade é que o destino fatal do Olimpo e somente no Olimpo sempre se irrompe soberano, mesmo nas paixões mais verdadeiras e nos amores mais sinceros e assim destituiu a serenidade dos encontros do Amor com a Beleza. Perséfone, a deusa que vivia nas trevas teve a despeito de tantos músculos a mostra apaixonar-se por Adônis, loucamente. Na disputa entre ambas, arquitetas de um mesmo sonho e impelidas pelo mesmo desejo incontrolável estiveram a rivalizar pelo mesmo homem. Grande era a rivalidade, as angústias e troca de desaforos entre as duas, que até mesmo nosso amigo Puck, o cupido secreto e tresloucado de Shakespeare haveria de estranhar semelhantes assombros e de tudo riria muito, nas longas noites.
Dessa desavença divinal, margeada por muitos dias e por tantas esperas, surgiu entre ambas um comum acordo: a ventura resignada de compartilhar o mesmo amor. Sob a anuência de Zeus, o príncipe dos deuses olímpicos um contrato foi firmado, reservando Adônis um terço do ano sob os cuidados de Perséfone, a deusa dos abismos; outro terço, semelhantemente, sob a terna afeição de Afrodite, a deusa do amor e da beleza e por fim, quatro meses o belo jovem estaria livre de qualquer compromisso, livre de qualquer abraço e de qualquer procura. E assim foi.

Adônis, que significa “Meu Senhor”, viveu por muitas estações desse modo, assim ambíguo, como senhor de todas e de nenhuma. A ninguém jamais foi dado a conhecer sua vontade, sempre dividida entre Afrodite e as Trevas, entre o mistério e realidade, entre o mito e a verdade, entre a segurança e a vaidade, entre a presença e a saudade. Entre os abraços presentes e as promessas juradas; entre a certeza e a escolha errada; entre mim e a coisa amada.

20 comentários:

Darshany L. disse...

sumido >.<

Dauri Batisti disse...

E eu que pensei que isso de viver entre o mistério e a realidade, entre presença e saudade, etc, fosse coisa só de feios humanos... rsrs

Jaya Magalhães disse...

Olha, eu fiquei babando aqui. Como você consegue misturar mitologia assim, dessa maneira tão gostosa de ler? Grudei no texto do início ao fim.

Será exagero dizer que todos temos um pouco do modo de viver de Adônis?

Acredito que já faz parte da gente essa história de viver assim:

"...entre o mistério e realidade, entre o mito e a verdade, entre a segurança e a vaidade, entre a presença e a saudade. Entre os abraços presentes e as promessas juradas; entre a certeza e a escolha errada; entre mim e a coisa amada."

É assim mesmo.

Beijo pra você.

Francisco Fendi disse...

Na vida vivemos de escolhas nem sempre escolhemos o que queremos mas sim o que é certo,pois você faz as suas escolhas e suas escolhas fazem você, o ser humano sempre terá duvidas e incertezas,mas nunca devemos ter medo de errar pois é com os erros que aprendemos e sabemos resolver todos os problemas.

abraço.

bia de barros disse...

quem terá sido seu verdadeiro amor? uma das duas? uma terceira? terá amado?

se não amou, foi pobre coitado, apesar de invejado por todos os mortais...

Lindo texto. Parabéns!

Anônimo disse...

Amo mitologia grega. Isso me estimulou a escrever sobre mitologia africana.
Ótimo texto! Muito bem escrito.

Abs

Cris Medeiros disse...

Lindo texto!

Obrigada por sua visita em meu blog!

Beijos

Lesma de sofá disse...

Muito bom. A tirada "bem dotado" de beleza, foi perfeita, adorei!
bjs

T disse...

o seu blog é um dos meus favoritos
ao todo são 9 dos 192839823 que visito. E olha q é a primeira vez que passo aqui.
São textos são bem escritos e suas idéias para posts são super criativas, amei aqui. demais ;*

Anônimo disse...

que bom ter blog com conteudo e textos maravilhosos abracos

Rafael Vidal disse...

:) risadas pelas madrugada.

Cherry disse...

Muito bonito...
mistura de sentimentos com um toque de mistério
muito bonito
bjubju

T disse...

oq sugeria minhas letras rosa e minha foto? oo'

Jacinta Dantas disse...

Interessante essa dualidade de sentimentos que também a vida os deuses. Interessante sentimentos tão humanos, de gente comum serem colocados aqui nessa dimensão. Gostei muito.

Frida Salobra disse...

Adorei o texto, a vida anda corrida, mas eu não vivo sem meu blog!

Saudade daqui!

beijocas!!!

Rafaela disse...

Oi, estava procurando foto de shoping e acabei caindo no seu blog, gostei do que li e queria deixar registrado aqui.

vwl

=)

Rafa (: disse...

adorei o texto!
brigada pela visita no meu blog!
beijos

Frida Salobra disse...

Obrigada pela dica!

beijocas!

"Quando termina é um saco"! Eu espero sobreviver...

Jaya Magalhães disse...

Texto novo.
Pápápá!

Quero texto novoooo!
Rs.

Beijo.

Olirum disse...

Lindo texto, gostei.

Posso te linkar?

bjs e boa semana