domingo, 13 de janeiro de 2008

Porco!

Quando nasceu não puderam nomeá-lo. Chamaram-no simplesmente de Porco. Tem todas as características suínas, mas não se sente como tal e não admite. Irrita-se e não atende.

Seu focinho, seu rabinho retorcido e suas cobiçadas costeletas são de porco. Mas ele não se apraz da lama como os demais e nem de restos humanos, quando se lançam no chiqueiro. Sempre preferiu o silêncio e a solicitude de um animal útil. Gostaria de participar em outras atividades do senhorio, de ser chamado de amigo. Mas o chamam de Porco, simplesmente.

Ele não corre muito, nem tem o olfato desenvolvido. Tem uma visão deficiente e tende a ser visto como prato de festividades. Nunca se olhou no espelho, mas sabia. Não era – definitivamente – um suíno. E nem poderia.

No entanto não entendia como o mundo assim o via. Tentou, sob todas as possíveis formas convencê-los do contrário e ser querido um pouco. Mas era um querido porco.

Após tantas e tamanhas tentativas deve seu devido esforço retribuído.

Uma escura tarde, estando solitariamente entre os pastos verdes, foi surpreso. Nem pôde ver quem o suspendera no colo e nem mesmo teve reação de gritar quando a lâmina afiada transpassou-lhe o pescoço nu. Não sentiu nada.

E, naquela tarde, redimido pela morte, recebera nomes diversos. Não poderia, mas ficaria feliz se ouvisse.
Bacon. Toucinho. Costeletas. Pernil. Lingüiça. E tantos outros, menos Porco, que o entristecia tanto.

12 comentários:

Vinícius Rodovalho disse...

Hilário, como sempre!

Um porco com crise existencial. Rs. Mas até que o entendo. É tão menosprezada, a sua raça, que não lhe resta outra alternativa, apenas o desejo de não ser um suíno. Seus irmãos vão para o forno, suas fisionomias e personalidades são lembradas como pertecentes a pessoas deploráveis e se alguém tem um espírito de porco, coitado!

A parte do "restos humanos" me assustou na primeira vez que li. Achei que os donos do chiqueiro eram assassinos cruéis e depositavam restos de suas vitmas na morada dos porcos. Mas logo percebi que eram restos de comida deixados pelos humanos. Rs. Credo.

Excelente texto. Tem uma corrente lá no blog, para a qual te indiquei. Fique à vontade se quiser participar. :)

Deleite Crônico disse...

Lembrei do documentario Ilha das Flores,o contexto não tem absolutamente nada em comum... a não ser o porco.

Ana Nogueira Fernandes disse...

Coitadinho =/

Unknown disse...

porco, porco... realmente, estou sem palavras.

Richard Aléxis disse...

Que triste... fique com dó do porco... Veja lá meu quase post!

Silêncio de Chumbo disse...

é um porco 1001 utilidades.. :P

Luana! disse...

Eu nem gosto de porco mesmo. Na verdade, tenho por eles tanto asco quanto tenho por uma barata.

E outra: Cem Anos de Solidããããão...D-I-V-I-N-O

Aprendiz do amor disse...

Tadinho do porco!!!!
=(

Anônimo disse...

Pobre porco! Só nos lembramos dele em cima de nossas mesas, degustando de tão saborosa carne...

Estou de volta rapaz!

Grande abraço

(Marta Selva) disse...

tadin do porquinho...
alem de morrer.. inda tem crise existencial..

mas..
we all have hum?!

Jaya Magalhães disse...

O pior é que não se pode nem ao menos dizer: no fim ele ficou feliz. Coitado do Porco. Apesar de toda e qualquer imundície, acaba sendo comido. Rs.

O post é In Memorian?
:D

Anônimo disse...

Depois desse texto, vou pensar duas vezes antes de comer uma lingüiça... tadinhoooooooo!!

É um belo argumento dos vegetarianos...

mas você não acha que as verduras também são amigas?

=**