sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

A procura da felicidade


Ontem fui assistir o filme "A procura da felicidade", com o Will Smith. O filme que lhe rendeu uma indicação ao Oscar, embora dificilmente ele consiga apropriar-se do prêmio.
O filme é bom. Confesso que se não tivesse vergonha e um pouco de comiseração própria, teria chorado.
A película conta a história fantástica e dramática de um pai desesperado que luta pela sobrevivência sua e de seu filho de 5 anos. E a busca árdua, mas constante, da felicidade.
A história feliz ou infelizmente me fez refletir.
Sai da sala escura direto para as luzes confortadoras do shopping, no qual me dava boas vindas ao mundo real. Estava feliz por, diferente do personagem, que chegou a dormir num albergue, eu poder fazer parte desse mundo iluminado. Estava feliz pelos rostos alegres e levianos das pessoas em volta, felizes por pertencerem ao mundo do capitalismo. Estava feliz pelas cores variadas expostas nos recantos das vitrines. Estava feliz pelos manequins.
Os manequins me deixam feliz. São seres imovéis e mudos. Mas perfeitamente agradáveis. Usam sempre o melhor do estilismo e sempre, sempre, sempre estão com a roupa certa. Na medida. São musculosos e sempre tem os glúteos em harmonia com as pernas; e as barrigas de acrilíco cinza, são sempre bem definidas. Muitos deles tem rostos. Outros tem o encanto sublime de poder ser algum humano, um rosto qualquer.
Os manequins pertencem a elite. Muitos nunca serão como manequins. Receio que eu seja um deles. Muitos nunca ficarão elegantes em roupas elegantes. Muitos não ficarão bonitos em roupas bonitas. Poucos conseguirão ser como manequins.

No filme há um final feliz - não vou contá-lo - mas no shopping o começo, o meio e o fim é esplendidamente feliz. A felicidade é pop, a felicidade vende.

Vendeu a mim. Embora previnido pelo meu amigo - e futuro marketeiro - Master, acabei vitimado pela técnica precisa de uma vendendora, que me fez comprar algo eu não precisava, simplesmente. Mas eu estava feliz.
Feliz pelo filme, feliz pelo shopping, pelos manequins.
Feliz pela compra.
Feliz!

Essa vai para a minha querida e rósea Ari.elle.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

Kassab sai do buraco!


Eu tinha algo engasgado e ontem tive a oportunidade pra desabafar. Como foi do conhecimento de todos, o prefeito de Sampa, Gilberto Kassab, expulsou de um posto de saúde, aos gritos, um manifestante que protestava contra a nova lei de proibição de propaganda de rua. As câmeras registraram o polêmico momento em que o prefeito, descomposto, berrava: “Vagabundo, Vagabundo”!
A turba assistia a cena, atônita. Foi hilário. E aproveito o gancho pra desenterrar esse assunto de placas e outdoors.
Sou paulistano e a cidade está feia. Mal cuidada. É louvável a intenção do prefeito de purificar a imagem de São Paulo. Mas ele atirou pro lado errado. Existe poluição muito mais nociva nas ruas paulistanas do que as coloridas placas.
Antes da lei, cruzava a Marginal distraindo-me com os outdoors de propaganda de calcinhas e estréias de cinema. Agora, quando entro na cidade, tenho de admirar o rio poluído e a fumaça cinzenta dos automóveis
As pixações também poluem a cidade. Ninguém eliminou as pixações. Os pixadores não tiveram de retirar suas marcas grotescas e nem foram multados. A lei não contemplou os mendigos. Não que sejam poluição, mas desagradam muita gente. E afinal, nada foi previsto pra dar dignidade e amparo a esses moradores esquecidos.
Você pode andar quilômetros nas ruas de São Paulo sem encontrar uma cesta solitária e indigna de lixo. As bocas de lobo vomitam seus detritos e nas guias das calçadas, repousam toda espécie de restos e sujeira. Os parques públicos continuam infrequéntaveis. Destaque para o Pq. Dom Pedro, que cheira mal, e tem o clima de alguma favela da Somália.

São Paulo lucrava muito com os impostos das placas. Porque não utilizar esse dinheiro para encestar a cidade e abrigar os mendigos. Repaginar parques e restaurar prédios e lugares obscuros do centro velho, como a cracolândia. Ou mesmo promover uma festa de vez em quando. Construir um museu, uma praça, um monumento.......
Obs: acima a foto de um típico prédio do centro, que virou um cortiço vertical.

domingo, 4 de fevereiro de 2007

As maravilhas do mundo!


O Cristo Redentor, monumento mais famoso do Rio de Janeiro, irá confirmar nesta quarta feira sua candidatura no concurso que elegerá os 7 monumentos mais conhecidos no mundo.
Dentre os monumentos que concorrerão, estão a Muralha da China e a Estátua da Liberdade.
O resultado do concurso sai em julho, e para ser eleito o Cristo precisará de 10 milhoes de votos.


Engraçado como algumas coisas acontecem. Já perceberam que pra tudo neste mundo exite um ranking ou uma lista de vencedores. Estamos num mês agitadissímo. Mês de Oscar e de Grammy. Duas festas apoteóticas, em que alguns perdem a vida e outras a virgindade pra ganhar um prêmio.

De fato ninguém quer ficar pra tras. Nem eu. Sempre fiquei, confesso, com raiva quando conquistava o segundo lugar, ou posição inferior. Queria ser o primeiro. E sempre me esforcei. Desde pequeno, quando ainda era um inocente, ganhei prêmios e elogios! E também muitas frustrações.

Mas o povo exagera. A lista de quem come mais. De quem come menos. De quem é mais belo ou feio. A lista dos melhores e dos piores. Dos maiores e dos menores. OS americanos são especialistas em ranking. Lideram o ranking mundial nisso. estão sempre criando listas extensas pra medir a popularidade ou a riqueza de alguém. Destaca-se as revistas People, Forbes e Billboard, que elegem periodicamente as pessoas mais famosas, ricas e as músicas número um das paradas, respectivamente. Sem contar nas inúmeras premiações que proliferam na tv.

Também gosto de listas. Esses dias elegeram a música mais romântica de todos os tempos. Venceu "My Girl" - aquela que toca no "Meu primeiro amor". Pra mim seria outra, evidente. mas quem se importa?

O importante é que alguém sempre esteja em vantagem do outro, sempre no topo! Sempre vencendo!

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

A pata Highlander


Hoje uma notícia curiosa me roubou a atenção. O fato seria por demais inusitado, se não fosse verdadeiro. Segundo a reportagem que li, se for confirmado a veracidade da incrível história da pata Perky, que teria sobrevivido a um tiro de um caçador, a dois dias numa geladeira à espera de ser assada e que ainda teria sofrido uma parada cardiorrespiratória. Agora sua vida vai virar um longa metragem e chegará aos cinemas do mundo todo até julho de 2008.A já chamada de Pata Highlander, virou alvo de investigações. Foram enviados emissários à Flórida para apurar os eventos envolvendo a patinha. Também teriam sido enviado ao menos dois advogados, já que provavelmente terão de pagar pelos direitos da história tanto à família do caçador que a alvejou - e socorreu, como aos veterinários que a operaram.Perky chamou a atenção do mundo quando, cerca de 15 dias atrás, sua história veio à tona. Alvejada por um caçador em Tallahassee, na Flórida, foi dada como morta e então colocada na geladeira, onde passou dois dias ao lado de outros alimentos.Quando a mulher do caçador, não identificada, pegou a ave para depená-la e, depois, assá-la, viu apavorada que o animal ainda estava vivo. Perky havia se mexido. Desesperada, a mulher levou a pata até um hospital veterinário, onde teve de ser submetida a uma cirurgia.Segundo David Hale, veterinário-chefe, durante a operação Perky sofreu uma parada cardiorrespiratória e chegou a ter sua morte anunciada à mesa de cirurgia. Vinte segundos depois, no entanto, moveu a asa e voltou a respirar.

Infelizmente nem todos tem a mesma sorte. Humanos ou não.
Mas com certeza a vida e a história de cada um valeria um filme. Cômico ou trágico, não importa. Somos seres individuais e únicos, cujo principal artifício está em vivermos uma vida singular. E a cada segundo, um frame é gravado em nossa aventurosa película. E a cada dia, uma nova cena que ganha forma e vida!

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

O bocejo - um conto



Jogou a pituca do seu penúltimo cigarro pela janela escancarada do táxi em movimento.A madrugada avançava e seria a derradeira viagem daquela interminável noite. Alberto já contabilizara dois dias sem dormir - não tinha sono. Desde que Rosilda o deixara para viver com outra, um mês atrás, suas horas noturnas haviam se tranforamado em suplícios programados. Talvez precisasse dormir um pouco.
Tinha medo da noite e já sofrera diversas agruras: travestis enfurecidos, assaltos repentinos, sequestros a até briga de casal. Dirigia cauteloso. Na mais badalada avenida da capital paulista uma mulher em vermelho fez sinal. Entrou e limitou-se a pronunciar uma palavra: seu destino. O motorista estava alerta: mulher sozinha, bonita, alta e vestindo rubro às quatro da madrugada não era bom sinal. Entretanto, não resistiu às suas pernas e seios discretamente exibidos. Contemplativos. Era linda.
Ela segurava rijamente sua bolsa e permanecia calada, nada disse. Alberto, temeroso, sussurrava algo. Silêncio. Pelo retrovisor pôde perceber um objeto metálico no interior da bolsa da estranha. Por um instante desviou seu olhar para o rosto da mulher e nada pôde traduzir, nenhum prenúncio de assalto ou perigo. Não era dada ao latrocínio, julgou.
Fitou-a novamente e visualizou um ponto branco em seus dedos. Enfiou-os na boca asperamente. Teve a impressão, pela tênue luz que atravessava os vidros fumê de vê-la chorar. Uma lágrima solitária e dolorida. Ia inquiri-la quando fora interrompido pelo brilho súbito de uma luz a sua frente. Era a polícia. Havia sido bloqueada a via e fora obrigado a parar. A moça agitou-se. Logo ficou rubra e arfante. Parecia estar com medo, ou pior.
A mulher parecia suar e quase gritou de pavor quando soube que teriam de cruzar a barreira policial. Apertou a bolsa, como se salvasse sua vida. Retesou-se. Alberto temeu abrigar em seu táxi uma fugitiva ou uma louca. O que ela havia tomado, considerou. O que faria se a polícia encontrasse uma suicída em seu carro. Procurou seu último cigarro. Tateava, tenso, e não o encontrava. Ouviu, entretanto as batidas firmes no vidro do carro: deveriam sair.
A estranha saiu relutante do carro. De longe Alberto a observava, com atenção. Seus documentos eram checados. Tentava ler-lhe os carnudos lábios ou decrifar os movimentos. Subitamente todos os olhos tornaram para ele. Retesou-se. Os homens da lei vinham em seu encontro, a passos largos. O coração dispára. Sobe-lhe uma náusea à boca; cai o semblante. Era tarde pra fugir e não havia razão pra tal. Não se lembrava de uma. Não instante eterno que se tornou aquela cena, pensou no pior, decididamente. Cerrou os olhos, em expectação, quando ouviu o comando "vai pra casa".
Olhou pela última vez pelo retrovisor sua breve amada. E divisou-a entrar na viatura hostil. Tentou encontrar seu cigarro, em vão. Estava mais calmo, agora. Pensava no acontecido. Surpreendeu-se em suas conclusões, bocejando. Foi pra casa dormir. Estava exausto. Estava finalmente com sono. Iria finalmente dormir. Iria sonhar com ela.