sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Vai de táxi!


O tom imperativo dos usuários de micro ônibus de São Paulo me assusta.
Como todos sabem, esses pequenos coletivos são os remanescentes das antigas “Peruas”.
As vans clandestinas que rodaram por muitos anos na capital. E como descendentes diretos, alguns costumes, como costuma acontecer permaneceram. Engraçado como a sociedade cria preceitos e são seguidos por um tempo e por um povo, mesmo depois da invalidade destes. Conta-se que em Roma, as pessoas ainda curvavam-se em honra ao Imperador, mesmo depois de muitos séculos da derrocada do Império.
Hábitos, como gritar o trajeto da lotação, mesmo havendo uma placa indicativa. A presença irreverente, quase lúdica do cobrador; a vontade insana de correr, saltar sobre lombadas, matar pessoas e concorrer com ônibus. Mas a principal herança que as ancestrais Kombis nos deixaram foi a flexibilidade de desembarque, ou seja, você pode descer onde quiser.
Sou totalmente contra, afinal lugar de parada é no ponto, mas enfim. Às onze da noite, em frias noites e em lugares obscuros, eu perdôo. E confesso que até faço uso desse artifício prático. Mas alguns excedem-se. Qualquer lugar se torna referência de parada. “Escadinha desce!” Como assim “escadinha desce”? Orelhão, por favor, clamam os educados. E daí varia-se: lombada desce, pixação a frente desce (???), no toldo azul, no cachorro a frente, desce; na esquina, na valeta, na fiação, na viela (EU!rsrsr). Daí o infeliz do motorista tem de decorar todo o percurso e suas variantes. A incidência da luz e as fases lunares influem um pouco. E quando ele, contudo, esquece de parar no local indicado, do fundo vem um grito aterrador: na escadinha, idiota! E vários xingamentos são expelidos. Me perdoem as feministas, mas as mulheres são as mais escandalosas. Tem uma loira que invocou até a mãe do motorista. Imaginem como. Uma noite, ouvi a até a palavra caralho, invocada com ira. O ofendido, calado, resigna-se.
É tão passivo quanto eu, no banco. Ele rememora o caminho a ser seguido e as possíveis paradas, uma alusão a jornada da vida e, eu, sugestiono, em silencio, apaziguador: “vai de táxi”!

9 comentários:

Richard Aléxis disse...

Sorte que por aqui as vans não pegaram muito hehehe.

Mas o negócio é comprar um carro e ser feliz!

Vinícius Rodovalho disse...

Com certeza, de táxi é melhor. É mais vantajoso pagar um pouco mais por conforto e calma.
Quem não tem cão caça com gato, contudo, e se não tiver mesmo jeito, basta ter um pouco de paciência.
Coisas desagradáveis acontecem, mas... é a vida.

Menáge à Trois disse...

Já andei de lotação e senti esse drama na pele, mas devo confessar que nunca fui tão empática com a figura do motorista. Ler seu texo me fez refletir, espero que eles me perdoem, espero que eles nem se lembrem de mim.


Como ninguém

AB disse...

Nossa... Triste situação a da falta de educação, CRONISTA...

Gabriela Martinez disse...

Mt bom texto. Até li todo! huhuh
Engraçado, que isso não acontece aqui em Salvador. As pessoas descem no ponto.
Velhinhos e gatinhas (EU! heheh) conseguem descer pouco antes do ponto, apesar de tudo. Mas pra isso têm q pedir com todo amor e carinho, quase dando um beijo na careca suada do motorista.

Ah, a Bahia... :)

hehehe

bjoooos

R. B. Dillinger disse...

Aqui em BH eles não param em qualquer lugar e às vezes passam direto. Acontece demais comigo. Me dá raiva!
hahaha Sem contar que sempre andam lotados!
ahhahaha

abraço!

david santos disse...

Aqui ainda nos vamos safando. Cidade pequena, 22000 habitantes, mas com tudo muito alinhado. Tenho corrido por muito mundo, mas devo dizer, que esta Cidade de São João da Madeira, é das melhores que conheci, em tudo. Por isso, nesse aspecto, estou muito melhor.
Parabéns pelo texto.

Naty disse...

Ola vim visitar teu cantinho e gostei.voltarei.
bjs naty

Bel disse...

Estou me divertindo demais lendo seus textos... (tem certeza de que vc só tem 21????)

Bom, "cachorro ali em frente desce" foi o máximo! Aqui não tem vans, acredita??? Só algumas kombis, alguns carros comuns (tipo caravan hehehe) fazendo lotação. Eu nunca peguei. Vou de carro mesmo. Ou de buzu, quando é pra faculdade (era!!!) aquela coisa sufocante apesar do ar condicionado, pois os cremes de cabelo (argh!) deixam o ar irrespirável!