quinta-feira, 5 de julho de 2007

A viagem


Semana passada o metrô parou. São Paulo parou. Eu não. Estava em casa. Placidamente ocioso. Que alívio, todos deveriam pensar. Escapar de ser pisoteado, espancado, estressado, atrasado, num buraco sem fim, lotado de gente estranha e revoltada. Algo infernal, não? Mas eu fiquei frustrado.
Frustrado por não ser uma vítima involuntária desse caos urbano.
Hoje penso quanto era adorável encontrar algum infortúnio em uma viagem de ônibus. Chegar em casa, na escola ou trabalho, indignado e enlouquecido. Destilar o mais fino veneno na circunstância adversa que me aborreceu. Fingir que o mundo é mais detestável do que é. Dramatizar as cenas cotidianas e escalacioná-las a epopéias!
Era divertido quando entrava um bêbado e perturbava a viagem. Ou quando alguma velhinha solitária descorria sobre sua vida insossa. Certa vez uma me contou como perdera a virgindade. Rio até hoje. Podia o ônibus quebrar, atropelar alguém, errar o caminho ou mesmo trazer o grande amor. Que chato é cruzar São Paulo, sem que nada de emocionante aconteça! Há dias que mendigos, vendedores, pregadores e olhos sacanas e suspeitos não me perturbam mais. Poderia ser qualquer coisa, desde que eu saísse ileso e pudesse deflagrar as misérias do mundo.
Por favor, aconteça o que acontecer, que hoje a viagem não seja tranqüila!

Um comentário:

Anônimo disse...

aq estou eu!

..também falava disso esses dias..tem gente que sai ilesa em qualquer momento..e há outros que rezam por uma viagem tranquila, um dia tranquilo.. mas como é bom chegar em casa, ou até mesmo na rua e rir com o que vimos, vivenciamos.. sofremos.. rsrs.. ser simples, igual ou comum não tem a menor graça! rsrs.. adoro situações inusitadas.. como é bom rir da desgraça alheia e até mesmo da nossa..