
Uma das mais complexas estruturas da sociedade moderna são as chácaras de fim de semana. São enormes áreas cobertas de um verde artificial, variando de gramados entre traves e begônias que remontam algum remoto passado edênico. São construídas enormes banheiras, chamadas piscinas; quadras de variados esportes, tantos quanto numa Olimpíada na França. São erigidos quiosques e saunas; vestiários e casarios para se livrar de todos os insetos que devoram os hóspedes nesse exterior paradisíaco.
São sugeridos iminentes e repetidos churrascos. Assam-se toneladas de carne recém descongeladas; a fim de entreter os homens presentes numa sugestiva confraternização em volta da fumaça. Litros de cerveja são consumidos, acrescendo piadas e barrigas nessas rodas viris. Os outros, crianças, noras, algumas espécies de cunhados, mulheres diversas e outros convidados menos íntimos, entretêm-se com centenas de engradados de refrigerante, muitas vezes sem gás.
São sempre indicados esportes, atividades, gincanas ou dezenas de meditações russas. Após uma semana intensa por trás de gravatas e de faróis indesejáveis, cariocas, paulistanos e toda espécie de desafortunados, têm a oportunidade de exercitar os flácidos e alvos corpos, sempre com contusão. Um Paulão sempre inventa um inédito salto mortal na piscina e acaba morto. As crianças choram pelo sangue derramado e a proibição do acesso ao nado.
A casa, como se costuma chamar, relembrando o passado colonial e a época áurea do café, faz com que todos se sintam no conforto do lar, mesmo que provincial, com senzala, cobras exóticas, lareiras esquecidas e latrinas coletivas. Dorme-se centenas de familiares num mesmo dormitório, congregando roncos, sussurros e nomes feios.
São sugeridos iminentes e repetidos churrascos. Assam-se toneladas de carne recém descongeladas; a fim de entreter os homens presentes numa sugestiva confraternização em volta da fumaça. Litros de cerveja são consumidos, acrescendo piadas e barrigas nessas rodas viris. Os outros, crianças, noras, algumas espécies de cunhados, mulheres diversas e outros convidados menos íntimos, entretêm-se com centenas de engradados de refrigerante, muitas vezes sem gás.
São sempre indicados esportes, atividades, gincanas ou dezenas de meditações russas. Após uma semana intensa por trás de gravatas e de faróis indesejáveis, cariocas, paulistanos e toda espécie de desafortunados, têm a oportunidade de exercitar os flácidos e alvos corpos, sempre com contusão. Um Paulão sempre inventa um inédito salto mortal na piscina e acaba morto. As crianças choram pelo sangue derramado e a proibição do acesso ao nado.
A casa, como se costuma chamar, relembrando o passado colonial e a época áurea do café, faz com que todos se sintam no conforto do lar, mesmo que provincial, com senzala, cobras exóticas, lareiras esquecidas e latrinas coletivas. Dorme-se centenas de familiares num mesmo dormitório, congregando roncos, sussurros e nomes feios.
Ninguém liga pra monotonia, pra inércia, pra sabatina de um fim de semana tranquilo na chácara. O importante é levar criames de alface e rúcula para se gabar na vizinhança ou uma vermelhidão cancerígena na pele para frustrar seu chefe que insinua comentários. Gangrena, torções, ressaca e a fatídica gastura da carne mal passada misturada com cerveja quente; tudo o que pode ser facilmente tratado na glória da Cidade Grande, que ainda lhe dá cinco dias úteis para você se recuperar para os próximos dois inúteis seguintes.
9 comentários:
Huahua... Se meu professor de biologia lesse isso, diria de cara:
"Que coisa de poooobre!"
E que trágico fim para Paulão e as crianças. Mais ainda para as crianças, não?
Rs. Bom texto. Como sempre, um sarcasmo cômico em alta. E qualidade literária, é claro.
tudo que eu queria era uma chacara pra descansar..:/
Aqui fiquei me perguntando se você recusaria um convite para ir à Chácara. Rs.
Eu gostei da forma como o texto foi construído. A crítica.
Beijos.
=*
Que lugar legal.
0 desconforto, amigos, pouca roupa...
Aqui em Manaus o lugar é Presidente Figueiredo (que não é em Manaus.. é Presidente Figueiredo!). Tem cachoeira e é perto!
Sem contar as maravilhosas Festas de Final de Ano "da firma", onde você tem que aguentar seu chefe bêbado e a secretária dando vexame, é jogo duro.
Eu conheço a situação... tirando a cerveja, que lá todo mundo é evangélico. Mas passei 15 anos da minha vida indo de férias para a casa dos ex-sogros, que é uma chácara dessas, a 10 Km de Recife. E, garanto, não é coisa de pooooobre, não. A chácara é chiquérrima, e eles MORAM lá, compraram com a grana que saiu da aposentadoria dele.
Mas vou te contar, odeeeeeio aquilo ali, odeeeeeeeeio estar fora da cidade e não ser numa praia, e odeeeeeeio as confusões que geralmente acontecem.
E se algum dos ex-parentes ler isso aqui eu tô ferrada!!!
chácara eh bom....
pegar um tempinho com os amigos fazer um churrascão....
ou mesmo pra fugir de todo mundo....
Você escreve melhor a cada post, CRONISTA!!! Feliz tudo, meu querido!!!
Chácara só é legal entre amigos...porque como "convidado distante" é muito chato!!
=**
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