domingo, 8 de fevereiro de 2009

Diplomacia fraternal


Minha irmã neste domingo teve a audácia de negociar a faxina de meus pertences por alguns trocados. Eu deveria despender de poucos reais em troca de uma quantia de peças de roupas lavadas e de varridas de vassoura. Jurou que só limpava meu quarto mediante um pagamento mensal. Objetivei-me absolutamente contra essa barganha, uma verdadeira afronta ao fraternismo imperante em casa. Irmãos não negociam com irmãos; ainda mais dentro do recinto sagrado do lar, onde coabitam todos os segredos da família. Usei de vários argumentos tentando concentrar na irracionalidade da proposta, sugerindo que como desocupada e mulher ela devia se ater nos afazeres domésticos sem dramas.
- Mas eu preciso fazer minhas unhas, vejam como estão encravadas.

Dissertei sobre essa tentativa infrutífera de voltar às origens primevas do capitalismo, onde um tanto de serviço corporal era trocado por dinheiro e cujas garotas de vida fácil fundaram. Era um absurdo, até uma covardia envolver a limpeza das minhas roupas íntimas numa negociação financeira. Como eu poderia fazer escambo com minha necessidade de conforto e higiene. Sugeri que ela continuasse a manter o serviço sem restrições e sem compensação monetária. Seria como um pôquer entre amigos: sem apostas ou ameaças; ganhos ou perdas. Insatisfeita com minhas argumentações, passamos da proposta tímida e amigável ao canibalismo fraternal, mordendo-nos doloridamente sem passar pelo estágio intermediário da troca de acusações e insultos. Rolamos abaixo alguns degraus na escada metafórica da Diplomacia e da escada literal, num vão de pé-direito duplo.
Terminados os curativos eu conclui: o capitalismo e suas negociações implícitas podem ser desfavoráveis e dolorosas; e observando as mulheres, cada vez com mais critérios, só posso concluir que não são humanas. Sem restrições de parentesco.

14 comentários:

Unknown disse...

Ter irmãos é ter que guerrear para sempre!!!!

Daniel Savio disse...

Cara, pensa bem, no final das constas não sairia tão ruim para ti pagar ela pelas roupas lavadas...

Pois pelo menos escapava ileso desta peleja.

Fique com Deus, menino Cronista.
Um abraço.

Larissa disse...

"amante das artes literárias e inconformado com tantas idéias mentais, pertubadoras, sem estarem escritas."

Gostei da sua arte literária, o texto de hoje está muito bom, mas essa frase realmente me chamou a atenção. Me identifiquei, total! Haha!

Vinícius Rodovalho disse...

Entre a escada metafórica e a literal, prefiro fazer algumas concessões. E desejar que os irmãos nossos de cada dia tenha compaixão de nós... Mesmo sendo uma irmã, uma inescrutável mulher. Mas humana, com toda certeza, Cronista. Sem restrições de parentesco.

Vinícius Rodovalho disse...

*tenham.

:)

Richard Aléxis disse...

Fraternidade está mais pra guerra fria do que pra captalismo huahau, pense nisso da proxima vez que for arremeçado das escadas literais da vida!

Richard Aléxis disse...

Fraternidade está mais pra guerra fria do que pra captalismo huahau, pense nisso da proxima vez que for arremeçado das escadas literais da vida!

Rafael Vidal disse...

Eu e Dri sempre acabamos no shopping e algum limite estourado kkkkk

Tathiana disse...

Como mulher posso dizer: vc é abusado! rs. Porque todo relacionamento, inclusive de parentesco, envolve certa dose de "escambo" - usando suas próprias palavras! rs.
Bjs.

Darshany L. disse...

adorei o jeito como conduziu a narrativa. transformou um fato chato do cotidiano numa crônica deliciosa de ler ^^

Sabrina Davanzo disse...

Adorei seus textos.
Adorei a guerra desleal com a irmã...hahaha

Um beijo!

Jaya Magalhães disse...

Marcio,

Primeiro, um fato: que escrita gostosa! Que crônica mais bem desenhada. E de um sarcasmo e ironia tão bem postos, que e fazia gargalhar sem nem perceber.

Aplaudo, rapaz.

[E nem digo que me vi na relação irmãoxirmã].

Besos.

Anônimo disse...

Eu que não queria ser sua irma, nessa escada ..

kkkkkkkkkkkk

MTO ENGRAÇADO!!!
ADOREIIIIIIIIII!!!!
UM abração!!!

Richard Aléxis disse...

As vezes me esqueço de como o ato de ler pode ser tão prazeroso, obrigado por me lembrar!