domingo, 30 de dezembro de 2007

As festas


Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo,
qualquer um pode começar agora
e fazer um novo fim.

Chico Xavier


Aproxima-se a perigosa época das festas. O Natal e o Ano-Novo, como se sabe, despertam os melhores sentimentos das pessoas, e isto pode ter conseqüências terríveis. São conhecidos os casos de paixão, alguns até terminando em morte, que começaram em festas de fim de ano, na firma, quando o espírito de conciliação e congraçamento leva as pessoas a baixarem a guarda e aceitarem o que normalmente não aceitariam e a fazerem o que, no resto do ano, nem pensariam, ainda mais depois de beberem um pouco. Nada mais embaraçoso do que, no segundo dia do ano novo, ter de tentar desfazer algum equívoco do fim do ano anterior.
— Dona Teresa, eu...
— Pintinho!
— Pinto. Meu nome é Pinto.
— Humm. Como nós estamos mudados, hein? Na festa...
— Era justamente sobre isso que eu queria lhe falar dona Teresa. Na festa. Algumas coisas foram ditas...
__Só ditas não, não é, Pintinho?
— Pinto. Pois é. Ditas e feitas, que...
— Já sei. Vamos fingir que nada aconteceu.
— Eu preferiria.
— Muito bem. Só não sei o que vou dizer ao papai.
— O que que tem o seu pai?
— Ele está vindo de Cachoeiro para o casamento.
Outra coisa perigosa é a pessoa se entusiasmar no fim do ano e decidir mudar. Ser outra pessoa. Deixar velhos vícios e adotar novas atitudes, ou recuperar algumas antigas. Janeiro, ou pelo menos a sua primeira quinzena, é uma espécie de segunda-feira do ano. As ruas ficam cheias de novos virtuosos, pessoas resolvidas a serem melhores do que no ano passado.
— Olhe.
— O que é isso?
— Aquele livro que você me emprestou.
— Eu não me lembro de...
— Faz muito tempo. E, na verdade, você não emprestou. Eu peguei. Eu costumava fazer isso. Nunca mais vou fazer.
— Você pode ficar com o livro. Eu...
— Não! Ajude a me regenerar. Quem fazia essas coisas não era eu. Era outra pessoa. Um crápula. Decidi mudar. Este sou o eu 2006. Comecei devolvendo todos os livros que peguei dos amigos. Acabou com a minha biblioteca, mas que diabo. Me sinto bem fazendo isto. Outra coisa. Precisamos nos ver mais. Eu abandonei os amigos. Abandonei os amigos! Olhe, vou à sua casa este sábado.
— Não. Ahn...
— Prometo não roubar nada.
— Não é isso. É que...
— Já sei. Vamos combinar um jantarzinho lá em casa. A Santa e eu estamos ótimos. Fiz um juramento, na noite de ano bom. Que me regeneraria. E ela me aceitou de volta. Há dois dias que não olho para outra mulher. Dois dias inteiros! Isso era coisa do outro.
— Sim.
— Do crápula.
— Sei...
— Eu era horrível, não era? Diz a verdade. Pode dizer. Uma das coisas que eu resolvi é não bater mais em ninguém. Era ou não era?
— O que é isso?
— Como é que eu podia ser tão horrível, meu Deus?
— Calma. Você está transtornado. Vamos tomar um chopinho.
— Não! Não posso. Jurei que não botaria mais uma gota de álcool na boca.
— Mas um chopinho...
— Está bem. Um. Em honra da nossa amizade recuperada. E escuta...
— O quê?
— Deixa eu ficar com o livro mais uns dias. Ainda não tive tempo de...
— Claro. Toma.— E vamos ao chope. Lá no alemão, onde tem mais mulher.


Luis Fernando Veríssimo


Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo,
qualquer um pode começar agora
e fazer um novo fim.
Chico Xavier

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Abra devagar


Um dos grandes embustes do natal é a necessidade do embrulhar. Nunca pesquisei, por mais propício que me pareça, das obscuras origens do embrulho de presente. Imagino que surgiu de alguma necessidade helênica de envolver objetos. Deve ter aparecido na mesma ocasião das roupas íntimas. Segundo alguns confiáveis filósofos contemporâneos, é mais remoto que o Natal. Algumas tribos macedônicas, como comprovam recentes fósseis, já empocatam seus pertences para as festividades de fim de ano.

Sou contra o embrulho. É um empecilho social encontrar um montante de papel ou papelão que harmozine com o presente, o presentiado e o pior: com sua falta de moral. Pois o embrulho é, no fundo, um ato moralizante. Ele cria o encanto e a ansiedade diante de sua insensatez. Camufla os presentinhos de "valor simbólico" e as "lembracinhas singelas"; torna interessante o par de meias que você encontrou em liquidação e o único CD de MPB que ainda restava na loja. Torna o presente atraente, como as cerejas no peru, que todos comerão em seguida, fazendo daquela toalha bordada em casa um objeto de extremo desejo, as vezes, dados os convidados, de perseguição.

Tem o efeito de prolongar sensações. O agraciado, tenso, imagina o que deve haver ali dentro, embora na maioria das vezes, fica impossível encobrir. Todos sabem quando ganham uma bola, um livro, uma caneta ou um par de brincos. Para esses não há mistério; e o importante é especular, imaginar que o cretino do seu amigo secreto acertou, ou que a desligada da cunhada entendeu suas diretas.

Alguns, contudo, ivonam no efeito. Conheci alguns invólucros que inclusive emitiam sons, depois de tocados. Outros diagramam cores ou têm efeitos pirotécnicos. Há variados casos em que o embrulho sai mais caro que o presente. Tudo para aludir a sensação de grandiosidade e consideração. Por isso facilito e pra economizar no envoltório, eu excluo o presente. Sem presente, sem embrulho. Simples como uma noite de natal.Haja paciência.

domingo, 9 de dezembro de 2007

Chácara!


Uma das mais complexas estruturas da sociedade moderna são as chácaras de fim de semana. São enormes áreas cobertas de um verde artificial, variando de gramados entre traves e begônias que remontam algum remoto passado edênico. São construídas enormes banheiras, chamadas piscinas; quadras de variados esportes, tantos quanto numa Olimpíada na França. São erigidos quiosques e saunas; vestiários e casarios para se livrar de todos os insetos que devoram os hóspedes nesse exterior paradisíaco.
São sugeridos iminentes e repetidos churrascos. Assam-se toneladas de carne recém descongeladas; a fim de entreter os homens presentes numa sugestiva confraternização em volta da fumaça. Litros de cerveja são consumidos, acrescendo piadas e barrigas nessas rodas viris. Os outros, crianças, noras, algumas espécies de cunhados, mulheres diversas e outros convidados menos íntimos, entretêm-se com centenas de engradados de refrigerante, muitas vezes sem gás.
São sempre indicados esportes, atividades, gincanas ou dezenas de meditações russas. Após uma semana intensa por trás de gravatas e de faróis indesejáveis, cariocas, paulistanos e toda espécie de desafortunados, têm a oportunidade de exercitar os flácidos e alvos corpos, sempre com contusão. Um Paulão sempre inventa um inédito salto mortal na piscina e acaba morto. As crianças choram pelo sangue derramado e a proibição do acesso ao nado.
A casa, como se costuma chamar, relembrando o passado colonial e a época áurea do café, faz com que todos se sintam no conforto do lar, mesmo que provincial, com senzala, cobras exóticas, lareiras esquecidas e latrinas coletivas. Dorme-se centenas de familiares num mesmo dormitório, congregando roncos, sussurros e nomes feios.
Ninguém liga pra monotonia, pra inércia, pra sabatina de um fim de semana tranquilo na chácara. O importante é levar criames de alface e rúcula para se gabar na vizinhança ou uma vermelhidão cancerígena na pele para frustrar seu chefe que insinua comentários. Gangrena, torções, ressaca e a fatídica gastura da carne mal passada misturada com cerveja quente; tudo o que pode ser facilmente tratado na glória da Cidade Grande, que ainda lhe dá cinco dias úteis para você se recuperar para os próximos dois inúteis seguintes.

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Antigamente, quando era jovem

Antigamente, quando era jovem
A vida era doce, como as gotas que em minha língua chovem
Caçoava da vida, como se ela fosse um jogo fútil
Assim como a brisa da manhã, na chama sutil
Sempre construí os pesares na débil e inconstante areia
Os milhares de sonhos que sonhei, deixados na frágil teia
Vivi pelas noites, evitando a nua luz do dia
E somente agora percebi, os radiosos tempos que perdia

Antigamente, quando era jovem
Tantos embriagados versos guardei, que ainda comovem
Tantos prazeres permaneciam reservados para mim
E da dor meus perdidos olhos recusavam ver o fim
Corri tanto, porém o tempo e a juventude correram atrás
Nunca parei pra meditar na vida e tudo mais
E cada conversa, que relembrar-me ainda sou capaz
Sempre preocupadas comigo apenas e nada mais

Antigamente a lua era azul
E cada louco dia trazia algo novo, do sul
Usei aquela mágica época, como uma varinha mágica
Para nunca ver os ermos da realidade trágica
O jogo do amor, joguei com ar arrogante
E cada romance que raiou, logo morreu arfante
E todos amigos que tive se foram de todo
E somente fiquei eu, prestes a finalizar esse jogo

Há tantos versos a declamar num desejo, que mingua
Hoje, sinto as amargas gotas de lágrimas em minha língua
Pois a velhice chegou, para que se vinga

Do tempo, quando eu era jovem ainda.

domingo, 25 de novembro de 2007

A lira dos meus 22 anos


Nesta data que sustenta fatalmente algo de querida,
eu queria qualquer coisa da beleza dos primeiros sonhos quando nascem suspeitos
Quereria partilhar do restauro da inocência perdida no primeiro assombro e a volta
dos mesmos olhos tranqüilos que viam de certa forma alguma verdade em tudo isso.
Pediria nesta hora a mesma cumplicidade entre as pernas e a vontade
Que me surgissem em estado de urgência cada caso mal resolvido
Antes da insistência fatal que faz surgirem rugas nos ossos
E que eu ouvisse meu nome em muitas preces pretendidas, em alguma noite
que eu tivesse um tanto de todas as faces da lua na fase cheia
que eu tivesse distante todos os amigos mais íntimos nos momentos mais alegres
e mantivesse relembrados os amores mais sutis que desprezei durante a vida
e considerarei na morte.

Pediria um presente de qualquer forma
tão raro e custoso que não merecia nunca ser dado
Uma dádiva tão simples que não me fosse aceita, mas sempre querida
e ser tão especial ao coração de um estranho que presente algum estivesse
sob qualquer pretexto à venda, que pudessem me comprar
Queria muitas dádivas que se encontram dentro de toda ilusão madura
e que pudesse recusar todo engano fácil que almejei a vida toda
e que antes de eu nascer me preveniram.

sábado, 17 de novembro de 2007

Corpo em Evidência - FINAL

Reúno toda a coragem em mim ainda persistente pra terminar o inusitado episódio que me dispus a narrar:
A maçaneta girou e quando abriram-se as portas, para intenso alívio, minha amiga comissária adentrou no recinto. Espantou-se com o corpo jacente um minhas mãos limpas, mas tratei de aliciá-la. Cobrei-lhe os sexuais favores que me devia, pois eu tinha um plano fácil. Iríamos colocar o adorável Robbie – agora mais adorável do que nunca – de volta no cesto confortável que ele deveria estar desde o início. O caminho era longo e a tarefa ousada, mas nada mais poderia ser feito, além de anunciar uma morte súbita e espontânea.
Era um cachorro agitado e vívido, e num desses acessos de alegria, ele morreu por própria ação. Sem nenhuma testemunha ou culpado. Eu tinha de despistar a Velhota enquanto minha companheira iria realocar o corpo no cesto plácido de nossa trama.
Assumi riscar minha impecável imagem de comissário e derrubei com gosto uma generosa taça de vinho no colo majestoso da Opulenta. Enfurecida, convidei-a pra se limpar no toillet. Ao tocar nesse substantivo francês, sentiu uma inesperada falta de seu cachorro amigo. Gritou seu nome e aflita pôs-se a ordenar uma busca. Tentei tranqüilizá-la, convencendo-a do bem-estar do canino: “Ele deve estar deitado por ai”. Aproveitamos de seu desespero pra recolocar a vítima no cestinho. E indicamos que ela procurasse ali.
Lentamente dirigiu-se a ao rico cesto de plástico que envolvia o corpo inerte do pequeno Robbie. Seu espanto foi instantâneo e confesso que tremi. Seguiu-se um choro prolongado e escandaloso por todo o avião. Ela não se convencia de sua morte – nem eu, como tratei de demonstrar. Especulou envenenamento, traição; mas o óbvio foi apresentado concisamente.
O enterro oficial aconteceu dias depois da autópsia. Exumaram o corpo em busca de vestígios, mas a única anomalia era o pescoço quebrado. A Viúva, como se denominou depois, passou os meses seguintes a essa trágica morte em recuperação, numa clínica com decoração tailandesa.
Hoje sinto algum remorso pela morte do cão que herdaria uma fortuna. Não posso, entretanto, desprezar esse imenso conforto que foi a impunidade desse crime. Segui, triunfante, meus rotineiros vôos ao redor do mundo, desprezando cães, passando o maior tempo das viagens nos apertados toillets com aeromoças gentis.

domingo, 4 de novembro de 2007

Corpo em Evidência


Eu era um respeitado comissário de bordo em mais uma viagem com destino a antiga Manchúria, a terra dos prazeres orientais. Sempre realizei com afinco meus aéreos serviços. Meu corpo juvenil e beleza singular sempre me colocava em situações constrangedoras, inclusive com uma recatada aeromoça, que insistia em me trancar nos banheiros.
Nada era mais constrangedor, contudo, que passageiros com animais. Certa vez tive de rastejar em busca de uma iguana raríssima da Guatemala, que até não hoje não a encontrei, entre os assentos do avião. Havia animais pacíficos; ficavam ali sentados, a contemplar os céus, a bebericar vinhos e encantar crianças. Uns até divertiam os vôos. E minha intolerância com os irracionais diminuía a cada viagem, o que se tornou, como pude comprovar com desgosto, um embaraçoso embuste. Esses cachorrinhos lindos, peludinhos, mesclados de marrom e branco que herdam milionárias fortunas – cuja raça eu desconheço – costumam fazer grande sucesso na viagem. Percebi que um deles simpatizou comigo desde o embarque. Abanava o curto rabo e me lambia os pés. Acenava com a língua pra fora e confesso que me despertou cumplicidade. Estava acompanhado de uma senhora corpulenta, enérgica e com uma bolsa original da Luis Vuitton. Foram pra primeira classe.
Fazendo minha costumeira vistoria por entre os assentos, percebi algo me roçando os sapatos recém lustrados. Era o pequeno Robbie, como o chamavam – em homenagem ao cantor, porque segundo a dona, os dois tinham o mesmo bumbum irresistível.
No começo sorri e retribui com alegria aos apelos do canino. Agradei a ele e a dona, principalmente. Mas longe dos olhares da Madame o ignorei. Juro que tentei me desvencilhar os gracejos do animal até que me irritei. Chamei-o de vira-latas e nem assim ele me largou. Sacudi-o violentamente pelo pescoço até que ouvi um singelo “TLEC”. Mirei profundamente nos olhos, que antes alegres e úmidos, agora jaziam fechados e murchos. A língua pendurada pra fora e os pulmões parados.
Só então percebi que tinha um cadáver em minhas mãos. Fiquei atônito com a possibilidade do assassinato, ou quem sabe de prisão! Ouvi femininos e distantes passos, em demoradas passadas a ser aproximar... um horror repentino me tomou as veias e tremi ao sentir a maçaneta protetora lentamente girando. Calado esperei. Eu não podia ser descoberto. Não podia perder o emprego. Eu não podia ser um assassino. Eu não podia....

Essa história, verídica e trágica está ficando muito longa, mas prometo que na próxima semana, eu conto o final – para os que voltarem é claro.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

A ronda noturna


Eram encontros proibidos. Deveriam estar protegidos pela escuridão e pelo silêncio sugestivo das ruas. Protegidos dos olhares curiosos e criminosos dos passantes, esgueirando-se nos muros. Contudo, a gravidade de tal empreita merecia todo o devido cuidado.
Cuidaram dos secretos encontros, às escuras, e os segredaram dos possíveis ouvintes, delatores. Somente um cúmplice compartilhava de tal embuste: eu, impositivamente. Delegaram-me vigia desse caso promíscuo.
Deveria fazer a noturna ronda que os livraria da surpresa da descoberta inoportuna. Cada beijo, carícia ou ato cometido deveria ser protegido por um conciso sinal. Deveria gritar a cada sombra que se aproximasse, fosse humana ou animal. Matar, se preciso.
Cada noite, cada encontro, postava-me vegetalmente na vaga sugerida de minha vigia atenta. Observava os intensos e breves passos, dos estranhos, sem nome, nas calçadas e o mínimo movimento me despertava horrores. Dava a sentença, por código, para que se apartassem, do que estivessem fazendo. Mas passado o assombro, devia dar o comando de liberação. O esperado comando, no qual os dois, postados aguardavam sempre, com os olhos aviltados pela escuridão.
Mantinha os dois a salvo e me punha em perigo. Só e solitariamente envolvido, por longas noites. A constância dos encontros e a intensidade do caso que se desenvolvia começara a despertar suspeitas. Todo vil olho que a nós se dirigia, olhava com olhar de projétil, a sugerir preceitos. Comecei a considerar a possibilidade da revelação e enfim, do final desastre. Cada dedo entrelaçado nos desejados corpos falavam mais que minhas espúrias palavras sem motivação, vãs. E eu, cúmplice e confidente era brigado a promover e me proteger.
Ainda assim continuei a acompanhar o proibido caso, até o terrível desfecho, que todos já devem supor...
Sim, terrível desfecho, que passado tanto tempo, nem consigo recordar.

sábado, 20 de outubro de 2007

POSTAGEM RETIRADA DE UM CLASSIFICADO DE JORNAL


ATENÇÃO!!! Não me confunda c/ outras. Pois mãe Dalva c/ MUITOS anos de exp. Garante 100% tz. a pessoa amada de 3 à 21 dias msm. Na PALMA da sua mão. Faz FORTE amarração infalível p/ amor, trab. sério. Venha ver p/ crer. F.6647....

DISQUE DESTINO: Leitura de tarô e carta CIGANA por R$ 1,99 min. F.6235...

MAGIA PODEROSA – Traz pessoa amada em 12h. $30. F> 6854...

VIDENTE DO AMOR: Tarô, búzios, FAZ E DESFAZ trabalhos (Fil. Federação Espírita-Ba) F.5541... com PAI José.

PODEROSA SIMPATIA: NÃO sofra mais – trago a pessoa amada em 8h, 100% garantido. 6855....

VUDÚ FEITIÇO REAL: para solucionar problemas POR MAIS difícil que seja. SACERDOTE em feitiço de Exu, Egun. Soluções POSITIVAS ao seu alcance. F.6951...

RELAX
COROA ROBERTA – dimin. Ativíssima bj na língua dp 2 vibr 6854...

ACASSIA – Faço c/ vc o que sua mulher ñ faz. Seg/Dom/Feriado. 6642...

ADRIANO GAROTÃO: Bonito, corpo definido p/ eles. Centro. 6548...

ANITA – Gaúcha FURACÃO + amigas liberais...

CAMILA MULHERÃO – faço 2x sem frescura. Com local....

NARA COROA – PELUDA (???) seioS fartos, orl sem camis. até O FIM. 3107...

YOKO MESTIÇA – legítima EX ATRIZ pornô 20ª bjo boca. 3302....

CARLA GULOSA - A VERDADEIRA profissional do sexo. MELHOR orl de S.P. anl GIRATÓRIO, TODAS as posições. 1h = 20$ . 3362.0777

Obs: Erros gráficos e abreviações mantidas.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Ela


Ela, talvez seja o memorável rosto
Uma centelha de prazer ou de desgosto
Talvez seja o tesouro ou o preço que pagaria
Ela, talvez seja a canção que ao verão apraz
Talvez seja o arrepio que o outono traz
Talvez seja centenas de coisas num mesmo dia

Ela, talvez seja a bela ou a fera
Talvez seja o banquete ou a miséria
Ela, talvez transforme cada dia num paraíso ou inferno
Ela, talvez seja o reflexo de meu desvario
Um sorriso refletido no fundo do rio
Ela, talvez não seja o que parecia, dentro do seu abrigo externo

Ela, que sempre aparenta feliz na multidão
Cujos olhos tão orgulhosos e altivos são
Que a ninguém é permitido vê-los chorar
Ela, talvez seja o amor que não posso esperar que dure
Talvez seja a sombra que o passado afigure
Mas que até o último dia, irei relembrar

Ela, talvez seja a razão pela qual sobrevivo
O porquê e o motivo pela qual eu vivo
Aquela que cuidarei pelos breves e rudes anos
Eu, tomarei de si seu pesar e seus encantos
E os tornarei pra mim, a janela aberta
Que de onde eu olhar, me revela:
O tema da minha vida é Ela,
Ela, ela, ela.

domingo, 30 de setembro de 2007

10 coisas que ODEIO em mim!






SOU HONESTO DEMAIS. Não que seja defeito, mas a possibilidade de estar em dívida com alguém, amigo ou inimigo que seja, me é uma imensa tortura. Pago sempre. Perturba-me agora saber que estou devendo a alguns; são centavos, mas ainda sim uma dívida. E pagarei. Odeio isso porque eu deveria ser com muitos: caloteiro! - que nunca me pagam.
NÃO PRATICO ESPORTE. A falta de músculos me incomoda. Desconhecer uma academia por dentro, ou como se chuta uma bola me faz angustiado. O sedentarismo me faz magro e só. E toda vez que vou comprar uma roupa íntima tenho de repensar essa condição: tenho de bombar!
LEIO DEMAIS. Eu gostaria de ter tempo de assistir TV. Nem sei se sou exigente, mas adoraria ter o prazer inocente de assistir Faustão e Gugu. Descobrir a delícia que as pessoas a minha volta desfrutam. Mas os livros não permitem. Sempre há letras demais na minha vida.
CANTO. Não deveria - eu sei, acompanhar as músicas enquanto são executadas. Pega mal, eu sei, mas insisto. Se eu tivesse algum senso musical ou mesmo uma voz compatível, creio que me perdoariam, mas todos me condenam. Mas um dia eu paro. Por mudez ou assassinado.
CRIO HISTÓRIAS. Às vezes é bom, deixar alguém perplexo, entre a verdade e a mentira. Mas na maioria das vezes é nocivo. Muitos acreditam até hoje que sou filho do Elvis e que fui abduzido uma vez. Eu mostrei cicatrizes e fotos, e fica chato desmentir depois....
NUNCA ME ENTUSIASMO. Algumas pessoas esperavam que eu desse pulos de alegria ou mesmo gritasse com o mundo. Mas o marasmo dessa existência curta me impede de ser inocente e entusiasta. Não sou apático. Mas quando uma mulher bonita me passa o telefone eu não compro uma aliança.
NÃO REPASSO CORRENTES. Sei que as crianças faturariam se eu repassasse o e-mail, e se eu considerasse realmente uma amizade, eu deveria ter o cuidado de devolver a mensagem, mas não. Reluto em ser o elo perdido, quebrado da corrente. Acaba ali, qualquer ilusão, qualquer expectativa, na minha caixa de entrada.
GASTO DEMAIS. E me arrependo. Mas tudo é caro nesse país. Eu podia aderir a pirataria e consumir tudo da China. Trajar-me com roupas feitas do Vietnã e freqüentar a 25 de março. Mas o dinheiro vale tão pouco, ainda mais quando se tem pouco! Mas que é a vida senão uma visita ao shopping!
SOU SOLÍCITO. Eu deveria ser vendedor: “PRESISA DE ALGO?” Sofri demais por ser bom, meio idiota. Ser amigo e leal, ajudar a estranhos e imerecidos. Mas fui cristão.
A décima coisa, vou deixar pra os que me conhecem, ou para os que me repelem, certamente há tantas moléstias que a lista não teria fim. Mas que seja assim. Como sempre eu soube ser.

Esse post é um atendimento – tardio- de minha estimada Li do http://canecadecha.blogspot.com/.

domingo, 23 de setembro de 2007

Exagera.

“Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim como em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.”
Fernando Pessoa

E, estando Jesus assentado defronte da arca do tesouro, observava a maneira como a multidão lançava o dinheiro na arca do tesouro; e muitos ricos doavam muito.
Vindo, porém, uma pobre viúva, deitou duas pequenas moedas, que valiam meio centavo.
E, chamando aos seus discípulos, disse-lhes: Em verdade vos digo que esta pobre viúva deu mais do que todos os que deitaram na arca do tesouro;
Porque todos ali deitaram do que lhes sobejava, mas esta, da sua pobreza, deitou de, todo o seu sustento.
S. Marcos

domingo, 16 de setembro de 2007

o Toque azul!


Uma das minhas sádicas aventuras secretas na atualidade é procurar estranhos no Bluetooth. Desde que descobri os recursos dessa interessante tecnologia, venho utilizando-a com compulsão. É quase um vício, meio obscuro, um tanto azul, como os quadros de Picasso.
Confesso toda a delícia de clicar em “Procurar” no meu aparelho e ver surgir, como um passe de mágica uma lista considerável de seres desconhecidos. Começou tímido, o hábito, por curiosidade, a título de aprovação. Era como um silicone recém implantado: só tocando pra ver. No caso, um toque azulado.
Daí perdi-me na compulsão. No ônibus, rua, restaurantes, por onde eu ia, eu tinha de consultar os aparelhos alheios, em inglória procura. Já achei de tudo, também. Desde a Gracinha,Lobão e a Superpoderosa, até o mais recente, o “Betinho tatoo”. Até hoje me pergunto o que significaria alguém no ônibus com o apelido: “Topa td por dinheiro”.
Eu não estava só, e instigado pelo grupo, voraz, insisti na busca. Entre as vermelhas mesas do Mac Donnalds, olhávamos em busca de qualquer sinal; seja de carisma ou de desaprovação. Suspeitei de um. Um sujeitinho mal encarado, acompanhado da namorada. Não tinha nenhuma tatoo visível, o que me fez mais desconfiado. Aonde Betinho teria escondido seu desenho da pele? – filosofei. Nem insistir em descobrir.
Apelamos, então para a gritaria. Aos berros indagávamos: Betinho, cadê você?! Porém nenhuma resposta foi ouvida. Ou ele não ouvia, ou estava com a boca cheia de picles e mostarda, ou pior..... o Betinho era......


P.S.: Se você quer saber quem matou Tais, ou tem uma sugestão para esse final, comente.

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Vai de táxi!


O tom imperativo dos usuários de micro ônibus de São Paulo me assusta.
Como todos sabem, esses pequenos coletivos são os remanescentes das antigas “Peruas”.
As vans clandestinas que rodaram por muitos anos na capital. E como descendentes diretos, alguns costumes, como costuma acontecer permaneceram. Engraçado como a sociedade cria preceitos e são seguidos por um tempo e por um povo, mesmo depois da invalidade destes. Conta-se que em Roma, as pessoas ainda curvavam-se em honra ao Imperador, mesmo depois de muitos séculos da derrocada do Império.
Hábitos, como gritar o trajeto da lotação, mesmo havendo uma placa indicativa. A presença irreverente, quase lúdica do cobrador; a vontade insana de correr, saltar sobre lombadas, matar pessoas e concorrer com ônibus. Mas a principal herança que as ancestrais Kombis nos deixaram foi a flexibilidade de desembarque, ou seja, você pode descer onde quiser.
Sou totalmente contra, afinal lugar de parada é no ponto, mas enfim. Às onze da noite, em frias noites e em lugares obscuros, eu perdôo. E confesso que até faço uso desse artifício prático. Mas alguns excedem-se. Qualquer lugar se torna referência de parada. “Escadinha desce!” Como assim “escadinha desce”? Orelhão, por favor, clamam os educados. E daí varia-se: lombada desce, pixação a frente desce (???), no toldo azul, no cachorro a frente, desce; na esquina, na valeta, na fiação, na viela (EU!rsrsr). Daí o infeliz do motorista tem de decorar todo o percurso e suas variantes. A incidência da luz e as fases lunares influem um pouco. E quando ele, contudo, esquece de parar no local indicado, do fundo vem um grito aterrador: na escadinha, idiota! E vários xingamentos são expelidos. Me perdoem as feministas, mas as mulheres são as mais escandalosas. Tem uma loira que invocou até a mãe do motorista. Imaginem como. Uma noite, ouvi a até a palavra caralho, invocada com ira. O ofendido, calado, resigna-se.
É tão passivo quanto eu, no banco. Ele rememora o caminho a ser seguido e as possíveis paradas, uma alusão a jornada da vida e, eu, sugestiono, em silencio, apaziguador: “vai de táxi”!

sábado, 1 de setembro de 2007

o Tique.


Eu havia lhe prevenido. Aquele tique o colocaria em problemas. Era o emblema que colocava. Não admitia os riscos que uma piscadela poderia conter. Eu sabia de seu hábito espontâneo de picar ligeiramente, pelos cantos. Mas era tique. Era repentino e traiçoeiro. Não escolhia direções ou horizontes. Agia. Fazia de tolo, os desavisados e de furiosos, os imprecavidos.
Não escolhia sexo, idade ou humor. Piscava, apenas. Desde a epigênese da infância e desenvolvera-se de forma tão natural, como algumas adjacências na puberdade. Se não lhe contassem, não perceberia. Como um daltônico diante da revelação do azul. Havia inocência e certa negligência.
Tal imprudência, contudo, teve seu merecido fim. Piscara para a pessoa errada. O metrô paulistano desenvolve todo tipo de ser. Desde os indiferentes e soturnos, até os solitários e suicidas. Foi um desse que encontrou. Sua cabeleira espetada, vermelha viva, pela ação da Koleston chamava a atenção, é verdade, e quem se atrevia a admirar, acabava iludido pelo tique involuntário. Mas piscara pra um poeta, um amante. E foi um crime. Acabou em suicídio, platonicamente.
Eu disse que disse que aquela estranha mazela o condenaria. Já apanhou, beijou, bateu, sorriu, amou, ignorou e foi recebido com calorosos dedos anulares e xingamentos. Mas ele não creditou-me. Afinal, que vale o conselho de um amigo, cheio de critérios!

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

A gorda


Olha a gorda à magra e a inveja,
Sua rotunda face lhe condena.
E a expressão da fúria que projeta,
Contrasta com sua banha amena.


E recorda arrependida da matula
Generosa que meteu na pança,
E a memória dessa farta lembrança
Desperta-lhe uma intensa gula.
Brota novamente, no interior, a fome;
Devora tudo, nesse acesso repentino;
E impedida de pensar enquanto come,
Consome mais, antes da anterior chegar ao intestino.

Seus motivos para estar feliz e obesa,
Estão todos num recanto, sobre a mesa,
Reflete, arrotando sem apetite,
E geme, aflita, um começo de gastrite.

domingo, 12 de agosto de 2007

Sal!


- Sal! Você serviu uma colher cheia de sal a um hipertenso!? Numa crise de hipertensão!
Tá certo. Eu deveria pesquisar coisas úteis na internet. Além de só ficar conversando, namorando, colecionando fofocas de famosos e amenidades, eu deveria definitivamente procurar coisas que pudessem salvar a vida das pessoas. Deveria ter pesquisado um dia: quais os malefícios do sal para uma pessoa com pressão alta; ou quais vegetais são benéficos pra hemorróidas. Coisas do tipo. Não deveria só fazer sexo virtual, o que considerei depois muito constrangedor, especialmente quando se descobre a inutilidade de se usar uma camisinha nessas relações analógicas.
Quando vi meu treinador contorcendo-se no chão, espumando como um poodle raivoso, e com ar diabólico, a única coisa sã que me veio a mente foi lhe dar uma farta colherada de sal. Instintivamente. Nem sei bem por que.
O sal já era usado há mais de 6000 anos pelos egípcios e não se comenta nenhum malefício entre eles. Só benefícios. Os romanos os usavam para pagar suas legiões e fundaram, o que no Brasil, só alimenta famintos, o salário. Foi por ele que o império otomano ruiu. (Foi?). E por causa dele que chegaram a América. Enfim, o sal é tudo nessa sociedade do prazer. Do consumo. Não importa o que queime na sua barriga. O importante é o gosto que proporcionou.
Sou apenas um bailarino e diante do ataque súbito de meu mestre, espontaneamente associei-o a um jabá. Isso mesmo, carne seca, que se conversa a sal. Não que ele se pareça com carne de sol, mas de repente funcionaria com as mesmas propriedades preservativas.
Descobri no hospital que não tinha. E pela boca voraz de uma enfermeira de meia idade, possivelmente neurótica. Ficou ali especulando. Eu respondia firmemente que não tinha motivos para matá-lo. Ele nunca me batia, ou me ofendia, nem mesmo me aborrecia. Somente seu sotaque russo me incomodava, mas não era motivo pra alardes. Neguei que ele me obrigava a fazer coisas estranhas. Eu sabia que contorcer-me e forçar-me a abrir as pernas daquela maneira era parte do seu trabalho. Neguei tentativa de assassinato, aborrecido. Uma ignorância considerada como crime. (a polícia me interrogou também).
Fiquei feliz quando ele saiu do hospital, lúcido. Não comeu nada salgado naquela semana. Não comentou nada. Somente agradeceu-me por eu ter salvado sua vida – fui eu que acionei o socorro.
Agora faço coisas úteis na net. Leio a Barsa todo dia. Hoje aprendi os 99 métodos de cortar uma cebola; três maneiras de pedir licença em turco e o nome de todas capitais do Vietnã.
Não sei se salvarão alguém. Mas é melhor que gemer virtualmente, ou ser preso.

PS.: Baseado (por incrível que pareça) em fatos reais.

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Lá vem a primavera!


Aproxima-se a perigosa época dos namoros. Lá vem a primavera!
Como a murta floresce, após meses infindáveis de esquecimento, embaixo da terra gelada, vem a primavera. Casais se juntam aos pares. Juntam-se para a procriação. Juntam-se para amar e para trair. Lá vem a primavera.
Por onde vou, por onde estou, mãos dadas e corpos colados, preparando-se para a crise do fim do inverno. Lá vem a primavera.
E com ela a carência. E querença desesperada e a busca desenfreada em achar um par.
Na faculdade, várias duplas aparecerem juntas, após o período de hibernação das férias. Assumidamente ou não. Amigos de longe e de perto. Estranhos na rua. Meu avô de 80 anos. A cadela da vizinha. Os mais tímidos, os mais belos. Os resignados e os suicidas. Todos prontos pra se entregar. Até mesmo eu, o último dos românticos, arrebatado. Lá vem a primavera.
Pode ser a dança de um bailarino, em sua dança sutil. Ou o jogo rápido de um jogador. A flor pequena de uma moça ou os caprichos de uma arquiteta. Lá vem a primavera.
Pode ser a palavra antiga e o estilo novo. Pode ser difícil, proibido. Pode ser a sombra ou o desejo que habita somente nos olhos. Pode ser a doença ou a eloqüência. Lá vem a primavera.
Sim. The love is in the air. Contagiou! Invadiu os capitalistas e os arquitetos em formação. Começou com os jovens e terminou nos mortos. Ninguém escapou. Os que latem e os que se calam. Ninguém pode negar. Lá vem a primavera.
E a todos os que negarem. Os que bem sozinhos estiverem. Florescerão, na primavera. Até o fim dela e procriarão. Pedirão mais e mais desse mel repentino e fugaz que nasce com as flores e morre no verão.
Lá vem a primavera e com ela seu amor. Lá vão os casaizinhos, juntos, em exaltação. Lá vêm os carentes, em procuração. Os solitários, em extinção.
Lá vem a primavera!

Para Cris, uma amante em negação!

PS: Depois do sexo, vem o amor!

domingo, 29 de julho de 2007

Bons de cama....


Escrever sobre sexo atrai muita gente, como o próprio sexo. Mas como o sexo, nem todos são felizes, nem na primeira, nem na última vez.
Nos textos que se lê geralmente um casal jovem e sensual protagoniza a cena, até gozar. O ato é lento e bem realizado, sendo detalhadamente descrito, desde a ereção, até a lubrificação vaginal. A cada toque ela fica mais molhada, como num vazamento da Sabesp; e ele de forma miraculosa intumesce progressivamente seu membro, até o heróico orgasmo. Tão duro e inflexível que admite nomes sugestivos como: porrete, viga, pau, tora, vara, cacete, etc, etc, etc.
Frases encenadas, como uma mulher de quatro num quarto escuro, dominada por um homem viril são lançadas a fim de excitar - além de instruir - os indecorosos e atentos leitores. Os verbos gemer, enfiar, penetrar, lamber, estocar, mordiscar, invadir, roçar repetem-se com freqüência nos textos mais finos. E ditados como: meter, encoxar, arder, engolir, arreganhar, e, fatalmente gozar, são utilizados pra ilustrar textos menos pretensiosos.
Fantasias obscenas são criativamente montadas. Praias, motéis, carros, feiras, açougues e pés de jabuticaba são cenários recorrentes. Faz-se de tudo neles e às vezes usando-se do próprio meio. Há histórias com bombeiros e hidrantes, canis e cães, cintas-largas e escumadeiras, laranjeiras e bagaços de limão. Tudo transcorre perigosamente excitante, atingindo o apogeu, até a gemida final.
O ato, a transa, o sexo, o ápice carnal, o troca-troca, a foda, o afogador de gansos ou qualquer outra analogia e adjetivo que é empregado transcorre incrivelmente vigoroso e só termina com a queda violenta dos amantes, sejam eles quantos forem, em êxtase ou em prostração. Sempre quererão mais e mais, teatralmente. Sempre estarão satisfeitos e exaustos. Amados e tranqüilos. Mesmo que no final do conto se descubra que transou com um travesti ou uma cenoura pré-cozida. Ou que o sémem derramado tenha cegado a parceira ou a tenha matado por asfixia. Poucos autores, porem, arriscam contos assim, excitantes.
Por essa célebre incoerência entre bom sexo e bom texto, bom de cama e bom de verbo, que afirmo: alguns deveriam ater-se a um dos atos, apenas, ou a nenhum.

P.S. Leitura excitante recomendada: “Sexo na cabeça” e “Orgias”, ambos de Luis Fernando Veríssimo.

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Entrega a Deus


“Entrega a Deus”, aconselhou o excelentíssimo presidente, a todos brasileiros que voam.
Seguem-se conselhos, práticos:

Quando sai a noite, entrega a Deus;
Quando sai de viagem, entrega a Deus;
Se vai passar em uma favela, entrega a Deus;
Se visita o Rio, entrega a Deus;
Se anda de metrô, entrega a Deus;
Se cai na marginal, entrega e Deus;
Se vai pra Amazônia, entrega a Deus;
Se sobrevoa um mosquito suspeito, entrega a Deus;
Se esqueceu a camisinha, entrega a Deus;
Se contrata uma garota de programa, entrega a Deus;
Se parou um motoqueiro do seu lado, à noite, entrega a Deus;
Se cair enfermo, entrega a Deus;
Se vai pro SUS, entrega ao diabo!
Se for professor, entrega a Deus;
Se na escola pública, entrega a Deus;
Se vai prestar vestibular, entrega a Deus;
Se passar, entrega a Deus;
Se vai pagar imposto, entrega a Deus;
Se passar no pedágio, entrega a Deus;
Se assaltado, entrega logo;
Se for ao Pan, entrega a Deus;
Se for esportista, entrega a Deus;
Se for medalha de bronze, entrega a tolha;
Se aposentado, entrega Deus;
Se trabalhador, entrega a Deus;
Se estudante, entrega ao tráfico;
Se estagiário, entrega a Deus;
Se nasce um filho, entrega Deus;
Enfim,
Se brasileiro, entrega a Deus.

domingo, 22 de julho de 2007

Feiras livres?


O acesso às feiras livres deveria ser restrito.
A começar pelos vendedores. Ninguém com mais de 80 decibéis de potência na voz deveria ser credenciado pra vender fruta nas feiras. Ninguém mais suporta os gritos estridentes de simpáticas senhoras e jovens sacanas, que enquanto vendem uvas tentam angariar algum caso extraconjugal. Nenhum feirante poderia trabalhar sem antes cursar um curso completo, reconhecido pelo MEC, de marketing e vendas. A atual conjuntura econômica da Indonésia força a essa situação. Frases de efeito, como, “Aqui é mais barato”; “Mulher bonita num paga, mas também num leva”; “A mandioca baixou, freguesa” não convence mais ninguém. Perderam o efeito. O único que causam é a desconfiança de que se está sendo passado pra trás. Por trás das bancas. As feiras deveriam adotar, como os shoppings adotaram, à contratação em massa de jovens belas e de corpos sensuais. Isso elevaria a qualidade dos melões e tubérculos e aumentaria em pelo menos 30% a freqüência de compradores, segundo estimativas.
Quanto aos compradores. Ninguém com mais de 150 kg deveria freqüentar uma feira. Idosos em estafa; mulheres portando crianças menores de 10 anos no colo; indivíduos que sobrevivam da mendicância, especialmente os que estacionam com cadeiras de roda; pessoas com alergia a pêras e que tenham sensibilidade a nectarinas. Ou os dois ao mesmo tempo. Certos fulanos, que rememoro com pesar, nunca deveriam conhecer uma feira por dentro. Tarados por bananas e viciados em especiarias orientais, por exemplo. Sujeitos que desconhecem a origem dos rabanetes e que nunca ouviram falar na atemóia. Que além de desconhecida, é uma fruta.
Por isso e por outros motivos que ainda culminarão na derrota do Brasil, ante o aquecimento global, é que insisto: o acesso às feiras deveria ser terminantemente restrito, senão abolido de vez!
Na Europa a prática desse tipo de feira está proibido desde o final da idade média, e deve ter uma razão para isso. Aqui, a feira deveria ser menos livre, a começar.

sexta-feira, 13 de julho de 2007

Crueldade


Alguém me confidenciou, alfito: A vida é cruel!

Não costumo investigar profundamente a vida alheia, mas ante a gravidade desta afirmação, não pude me conter.

Perguntei ao jovem o motivo da sentença, e secamente respondeu: fui traído!

"Como assim", interessei-me.

-Peguei meu namorado, metido numa festa em uma dark House, na ingrata madrugada, com quatro caras em cima dele. Doeu tanto, alfinetou, finalmente, com pesar.

Digeri vagarosamente a infomação recém apresentada, colocando os personagens na história, alocando as ídeias e refletindo imensamente na situação vivida pelo sujeito na minha frente. E confesso que a primeira ventura que veio a minha mente foi a maldade de dizer: "E porque não pulou em cima dele também!" E ri da maneira mais cruel e prazerosa que se possa rir. A risada interna. Aquela que se ri com a alma.

E antes que eu pudesse esboçar qualquer atitude de espanto, respeito, comiseração ou mesmo alento.

Proferi, subitamente: Realmente, o mundo é cruel.

terça-feira, 10 de julho de 2007

Mater Dolorosa

Uma crônica, da minhas preferidas pra descontrair, em homenagem a todo estudante de cursinho do Brasil!

Aqui faz
Com o jornal na mão se abanando
A mãe de um vestibulando.
Pouco faz,
Alguém lhe passou, aflito,
Santo Deus, o gabarito!
Rogai pelos genitores
Na hora de seus estertores
O filho, consultado
Sobre o provável resultado,
Disse que está numa boa.
Tudo a mil,
Céu de anil,
“Não vos grilei, ô coroa!”
E saiu pra comemorar, com estranhas
O ingrato fruto de suas entranhas.
Aqui fenece
Com o rádio no ouvido, p e n a n d o,
A mãe de um vestibulando
E desfalece.
Sua alma é uma folha ótica
Rasurada e caótica.
Se tivesse como optar
Num sistema de múltipla escolha
Antes deste que a quer matar
Teria dado a luz a uma bolha.
Não vos deixai cair em prostração
Enquanto não sair o listão.
O filho, que em vez das matérias
Só estudava o que fazer nas férias,
Diz que: “Olha aqui, já passei.
Do jeito que está o ensino
Só não passa um cretino
E, de qualquer jeito, eu colei”.
E saiu pra chopada,
Deixando a mãe crucificada.
Aqui se arrasta
Como uma loba, uivando,a mãe de um vestibulando.
Junta vizinhos e populares
Pra ver os seus esgares.
“Esse filho da mãe é um sortudo,
sempre tive apoio e alento
e vai errar quase tudo,
o jumento!”
livrai-os do impulso mortal
- estrangular um filho pega mal.
E o filho da mãe, triunfante,
Com ar superior e confiante,
Disse pra velha: “relaxa.
Botei tudo na colei na coluna do meio
E vou passar sem receio,
Este ano a média está baixa”.
E saiu com aceno na mão
Enquanto a mãe estrebucha no chão!.
Luis Fernando Veríssimo

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Uma espancada, Dois travecos e 3 encarcerados!

No blog http://banalidades-raras.blogspot.com/ a autora diz que o Lula foi chamado de deus, pelo renan calheiros. O ruim, como disse, é se o sapo barbudo chama o Rei do gado, de santo, dai é pizza na certa. De queijo bem gordo, superfaturado!


Sobre o caso do ator que espancou uma garota de programa:

V diz: vi, mas era uma travesti
M diz: não, era uma prosti
V diz: não?
M diz: mais ou menos
foi assim, sem detalhes:
diz q o cara, o tal ator e mais dois indignos amigos
tiveram a brilhante e nefasta idéia
V diz: (diz q, hauahuahua)
M diz: de "contratar" o serviço banal, ou bacanal de 3 garotas de programa, vulgo prostis....moças de vida fácil, biscas, etc....
uma para cada meliante, imagino!
Todas de boa aperência e alegando grande experiência. Apresentaram até currículo aos 3 rapazes.
V diz: ahn, prossiga
M diz: Axaram as garotas lindas, corpos perfeitos, bem educadas e totalmente entregues aos desejos dos contratantes.
dai qdo chegaram no vamo ver!
viram o q naum queriam!
Ou o que esperavam, vai saber o que realmente queriam!
Duas das donzelas eram travestis!
dai foi pau pra todo lado!
no bom sentido,
(se bem q pancada num tem bom sentido!)
V diz: ah!
M diz: Só q a única mulher do grupo apanhou
os dois travecos sairam ilesos
Nem quebraram a unha ou tiveram d tirar o gillete da língua
dai foi cana nos contratantes!
Literalmente!
Pancada pra prosti e um próximo cliente pros travecos, que enganaram até artista!

Trecho extraído de conversa pelo msn.

quinta-feira, 5 de julho de 2007

A viagem


Semana passada o metrô parou. São Paulo parou. Eu não. Estava em casa. Placidamente ocioso. Que alívio, todos deveriam pensar. Escapar de ser pisoteado, espancado, estressado, atrasado, num buraco sem fim, lotado de gente estranha e revoltada. Algo infernal, não? Mas eu fiquei frustrado.
Frustrado por não ser uma vítima involuntária desse caos urbano.
Hoje penso quanto era adorável encontrar algum infortúnio em uma viagem de ônibus. Chegar em casa, na escola ou trabalho, indignado e enlouquecido. Destilar o mais fino veneno na circunstância adversa que me aborreceu. Fingir que o mundo é mais detestável do que é. Dramatizar as cenas cotidianas e escalacioná-las a epopéias!
Era divertido quando entrava um bêbado e perturbava a viagem. Ou quando alguma velhinha solitária descorria sobre sua vida insossa. Certa vez uma me contou como perdera a virgindade. Rio até hoje. Podia o ônibus quebrar, atropelar alguém, errar o caminho ou mesmo trazer o grande amor. Que chato é cruzar São Paulo, sem que nada de emocionante aconteça! Há dias que mendigos, vendedores, pregadores e olhos sacanas e suspeitos não me perturbam mais. Poderia ser qualquer coisa, desde que eu saísse ileso e pudesse deflagrar as misérias do mundo.
Por favor, aconteça o que acontecer, que hoje a viagem não seja tranqüila!

terça-feira, 19 de junho de 2007

Alcunheteiro.


Nem sei se essa palavra existe. Mas vou quebrar meu jejum blogistíco com ela. A uso como título, mas em minha condenação. Desde tempos remotos, por motivos hereditários, influência perniciosa do meio e diversos outros fatores, sempre fui adepto de empregar apelidos nas pessoas. Alcunhas. Nunca me importei quando me apelidavam, mesmo quando a alcunha era maldosa. Portanto, as pessoas, imaginei, não se importariam se eu as apelidasse também. Ainda que em segredo. Desconsiderando minha modéstia, visto que isto não me gloria em nada, meu talento em definir adjetivos em alheios e avessos era visível. E por força do hábito, a alcunha sempre caia no gosto, ou melhor, na língua popular. E nunca eram carinhosos.

Os professores eram meus preferidos. Pertencem a uma raça imcompreendida, cuja principal definição deve-se aos apelidos notórios. Havia a "Pinguim", por causa da aparência. Era baixa e rotunda, com as pernas roliças, que me moviam desengonçadamente. Lembrava em muito a ave do pólo Sul. Outro estimado era o Drogas. Na verdade seu nome era Douglas, mas devido ao hábito profano de consumir bebidas alcoólicas, o segundo nome pegou. Todos eles mereceram apelidos honrosos, ora pela personalidade, ora escrachando a aparência.

A vizinhança também era um campo fértil pra imaginação. Havia a bruxa, o tarado, o pereba, "preula" e outros tipos que não poderia mencionar. Ninguém escapava. Até os mais intímos amigos e parentes recebiam nomes generosos. Havia um, dos mais populares, que se espalhou por toda escola. Era o catita. Até hoje ele convive com a alcunha, passivamente. Catita era a cachorra vira-latas da minha prima.

Na igreja que frequentava, que também era habitada por seres interessantíssimos, sempre havia algum que merecia atenção. Havia o "irmão Quebra-Pedras", "a irmã Calhembeque", a Presepada, a Patotinha, etc.

Tamanha era a aceitação da alcunha, que se tornava o próprio nome, ou sobrenome da pessoa. Atualmente, na faculdade, há uma indivídua, que não posso dizer o nome (caso ela leia), que só échamada de "Participativa", imaginem porque. Desconheço seu nome verdadeiro., tamanho a potência da alcunha.

Enfim, não vou revelar mais, nem os meus. Alguns ficam anônimos, outros, em pleno uso. O importante é apelidar.


Ps. Quem quiser revelar seu apelido, ainda que carinhoso, pode colocar.

segunda-feira, 14 de maio de 2007

Beleza Interior


O que importa é a beleza interior, ouvi reiteradas vezes. Também repeti muitas outras na vã tentativa de dar crédito ao dito. De fato, o que vale é o exterior. Mas não sou quem o digo.
Garotas ignoram garotos feios, e garotos disputam garotas bonitas. É uma lei. Pessoas de melhor aparência ganham mais e estão em melhores cargos. Os belos recheiam novelas, filmes, e comerciais de todo tipo, dificilmente indivíduos dos subúrbios fora dos padrões sociais são vistos na mídia. “Agora não, Márcio” - é o chavão quando desponta algum feio no programa da Record. E é fácil de descobrir a razão.
A indústria da beleza sobrevive da depressão das pessoas. Gordura, magreza, estrias, nariz grande, rugas, espinhas, celulite são crimes imperdoáveis no padrão estético imperativo. Negras tem de alisar os cabelos; magras tem de turbinar os peitos e homens tem de bombar na academia. São horas infindáveis sob o sol e dias inteiros malhando. Apresentadoras e atrizes tem de se submeter as mais engenhosas cirúrgias pra corrigir a ação implacável do tempo. Todas querem a boca da Angelina Jolie, o nariz da Nicole Kidman e o bumbum da Juliana Paes.
Todos querem parecer outra pessoa. Os feios sobram nas festas, nas baladas são alvos de piadas, são desprezados no shopping. Só serão amados se tiverem rostos e corpos como os da revista. “Emagreça em 5 dias; queime gorduras; depile-se; alise, retire; ponha” é a ordem geral.
Aqueles que não desencanam ou desistem vivem amargurados esperando o dia que serão como os ídolos. A feiúra é um castigo! – pensam. As belas são temas de poema, de música. São fotografadas, pintadas em quadros e se tornam capas de revista. Não sobra espaço aos feios. É a maldição dos genes. Conheci gente que se matou por causa de uns culotes, calos, cabelo armado e dedos tortos.
Talvez ainda lancem um creme, um aparelho, dieta ou método que tornem todos em deuses, modelos. Enquanto isso, é viver lamentando-se. Pois, como dizem, me perdoem os feios, mas beleza é fundamental.

sexta-feira, 4 de maio de 2007

Dá um trocado aí!?


Quem mora em São Paulo concordará. Quem não mora, também.

Ontem, na facu, apareceu uma senhora, jovem, acompanhada de uma criança. Os dois nos abordaram e levei o maior susto. Aquela hora da noite só podia ser assalto, já estava dando adeus ao meu celular novo! Ainda a estranha resmungava ter sido mal tratada por alguém. Feliz ou infelizmente não era um assalto. Ela queria dinheiro. Ostentava uma receita médica na mão e jurava que o menino era tinha bronquite. Como sou um tanto cético aos pedintes, ia pedir por garoto dar uma tossida, mas hesitei.

Deixei a moça terminar seu discurso e com todo meu espírito cristão, contribui. A senhora beijou-me os pés, deu três cambalhotas, rebolou e partiu, radiante.

Esse foi só mais um caso em sampa! Quem anda de ônibus, trem ou metrô concordará que esses meios de transporte estão virando meios de sobrevivência. Mulheres com crianças famintas; idosos exibindo feridas na perna, mendigos mal cheirosos e uma infinidade de tipos que se repetem. Nas ruas, nas portas dos bares e nas praças, em todo canto.

Antes de entrar em qualquer boteco, pra comprar um chiclete, que me dará dor dente, olho pros quatro contos pra ver se não tem uma criança de rua que me pedirá um trocado. Evito certas ruas e regiões, mas é inevitável....

Quando vou sair de casa, tenho de pensar no dinheiro pra passagem, pro lanche, pros imprevistos e claro, pros necessitados. E uma boa soma. Pode-se encotrar dezenas deles numa breve saidinha. Nem vou na padaria mais. Como alegar falta de recursos se você é flagrado na saída de um comércio? É um golpe, afinal! Armação! Uma conspiração. Uma revolução dos mais necessitados contra aqueles que levam mixarias no bolso.

Por isso, agora, seleciono a quem irei ajudar. Faço entrevista ou sorteio; concurso ou jogo de perguntas! Analiso as roupas, o estado do cabelo e uso a máquina de detectar mentira. Se não fosse assim, no final do dia, quem pediria esmola seria eu!

segunda-feira, 16 de abril de 2007

Ridicule!

Ontem um tiazinha caiu no ônibus. Era obesa e desengonçada.
Era um daqueles coletivos que tem vários degraus. É um sobe e desce infeliz até atingir a final da viagem. Parece um pista de motocross. A diferença é que na anedota de ontem a tiazinha não dirigia sobre duas rodas, mas se erguia em duas pernas, roliças.
Ridicule!
A infeliz prevendo a condenação e satirização geral, tratou de encomendar a culpa pra filha. Espraguejou a pobre da criança, que ao meu ver, inocente e perplexa, não entendeu nada.
Ridicule!
A mãe recompondo as banhas dispersas pelo chão, ajeitando o cabelo e recompondo seus brios, lascou um beliscão na filha, alfinetando: “não me empurre mais! Ande com calma, menina! Você nunca mais sairá de casa! Maldita”!
Ridicule!
Foi ai que a cena se complicou, a mãe prostrada, eloqüente; a filha, chorosa, reclamando inocência, e eu ao lado da confusão, sendo o candidato mais provável pra acudir a ambas.
Eu estava, nessa altura bem acomodado e distraído nas minhas amenidades diárias, pagando pra não sair do lugar. Confesso que ria. E ria disfarçadamente, ruminando aquela situação vexatória. A passageira me encarava, pedindo socorro. Ai ai ai !
Ridicule.
Ela se ergueu, altiva e determinada. Estava recomposta cheia de autocomiseração. Jogara a culpa do tropeço na criança, sacudira a poeira e dera volta por cima. A viagem prosseguia, o ônibus sacolejava e eu, sereno e tranqüilo, fiquei risonho e inerte ante a infâmia alheia de estrebuchar no ônibus.
Livre-me o destino disto!
Ridicule!
Ridicule!
Ridicule!

domingo, 15 de abril de 2007

Vamos ao SHOPPING!


Qual a utilidade de um shopping?
O shopping é um centro de compras, certo? Shopping center! Pessoas pouco ou muito endinheiradas se dirigem ao templo apoteótico do consumo pra realizar a atividade máxima das cidades: comprar. Comprar é bom e quanto mais, melhor. A única infelicidade é que geralmente o desejo de consumo varia na razão inversamente proporcional ao poder de compra.
Ainda assim vamos ao shopping. Claro que lá não tem só lojas. Tem cinemas, restaurantes, lanchonetes, casquinhas de sorvete e até parquinho meia boca pra agradar as crianças, enquanto os pais agradecem aos céus a existência sublime dos shoppings!
Então o shopping também é cultura, afinal cinema é cultura - mesmo que quando você entra na fila, e ver que caiu na enrascada de optar entre Xuxa Gêmeas, Didi e os 300..... - não houvesse o detalhe incômodo da bilheteria, que é consumo também.
Até a atividade mais desejada entre jovens e E.M.O.S. de cabelos eriçados, o namoro, que é praticado no shopping, e em grande escala. Esbarra-se em casaizinhos e hoje em dia, em grupos se esfregando nos recantos menos iluminados dos shoppings. Beijos ardentes e amassos picantes. A coisa toda rola solta. E teoricamente não precisa ter dinheiro pra dar uns pegas. Não precisa gastar pra namorar. Teoricamente.
Solteiras solitárias, suicidas, gays desiludidos, manos e patricinhas, estão todos ali, num sábado a noite.
Come-se no shopping. Em várias porções e posições.
Paga-se contas.
Briga-se, chora-se, ri-se, encontra-se, perde-se, beija-se, paquera-se, inveja-se, cobiça-se.
A vida acontece no shopping.
Vive-se no shopping?
Por necessidade, depressão, consumismo ou mesmo por mera casualidade, uma ida rapidinha ou delongada ao shopping sempre faz bem. O shopping é seguro, iluminado, bem freqüentado, descorado, e totalmente climatizado pra receber seus visitantes ávidos ou informais. É bom ir ao shopping!
Não importa pra quê!

Língua!


Fui visitar o Museu da Língua Portuguesa. Aliás era pra visitar a Pinacoteca, mas estiquei o passeio. E o fiz com gosto. O museu que estreou em março de 2006 vem recebendo muitos elogios e fui conferir.
Realmente o passeio é interessante. Curto, mas emocionante. O ápice chega na apresentação de um telão, que conta brevemente a história da língua e bravamente o poder que ela têm. E em seguida nos mostra uma seleção bem interativa e visualmente interessante dos mais bem arquitetados textos da língua portuguesa. O museu ainda trata da longa etimologia da língua, desde suas origens arcaicas, até os neologismos atuais, passando por todos povos e épocas dos quais somos feitos. Pois afinal, falamos português. Pensamos em português. Sentimos em português. Criamos em português. Gostando ou não.
A partir de hoje será difícil usar a língua da mesma forma como até hoje. Já não poderei falar, pensar ou mesmo escrever da mesma forma. A forma da palavra, da letra, as construções, a comunicação única e humana da fala. Pensar nela como um instrumento vivo que consegue construir mundos e destruir nações. Que nos tira a condenação de viver no presente e deixar o passado no esquecimento.
Hoje, no dia da mentira, conto essa verdade e essa emoção.
De todos falarmos a língua, a sentença, a idéia, a verdade portuguesa.

Abaixo segue um trecho do Poema a procura da Poesia, do Carlos Drummond de Andrade:

Não faças versos sobre acontecimentos.
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,não aquece nem ilumina.
As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.
Não faças poesia com o corpo,esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.
Tua gota de bile, tua careta de gozo ou dor no escurosão indiferentes.
Não me reveles teus sentimentos,que se prevalecem de equívoco e tentam a longa viagem.
O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.
Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.
O canto não é o movimento das máquinas nem o segredo das casas.
Não é música ouvida de passagem, rumor do mar nas ruas junto à linha de espuma.
O canto não é a naturezanem os homens em sociedade.
Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança nada significam.
A poesia (não tires poesia das coisas)elide sujeito e objeto.
Não dramatizes, não invoques,não indagues.
Não percas tempo em mentir.Não te aborreças.
Teu iate de marfim, teu sapato de diamante,vossas mazurcas e abusões, vossos esqueletos de famíliadesaparecem na curva do tempo, é algo imprestável.
Não recomponhastua sepultada e merencória infância.
Não osciles entre o espelho e a memória em dissipação.
Que se dissipou, não era poesia.Que se partiu, cristal não era.
Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consumecom seu poder de palavrae seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema.
Aceita-ocomo ele aceitará sua forma definitiva e concentradano espaço.
Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada umatem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível que lhe deres:Trouxeste a chave?Repara:ermas de melodia e conceito elas se refugiaram na noite, as palavras.
Ainda úmidas e impregnadas de sono,rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.

segunda-feira, 26 de março de 2007

Olhe por baixo!


Ouvi um conselho um dia, que me foi muito útil.


Costumava reclamar da vida a achava que sempre era perseguido pelo destino. Achava feiúra, pobreza e burrice castigos bem empregados na minha pessoa. Sempre havia a grama verde do vizinho, que rolava nela. Seu carro novo e suas filhas graciosas desfilavam no jardim, enquanto eu amargurava uma vida vã e insatisfeita.
Pode-se andar no shopping por horas e só encontrar pessoas belas e bem sucedidas. Parece sempre haver luz solar para os outros e trevas contínuas pra si.

Mas um conselho mudou a minha vida. Na verdade, não minha vida, pois continuou quase a mesma. O que mudou, eventualmente, foi minha maneira fútil de pensar.
Creio que vocês já estão curiosos quanto ao conselho e lhes digo logo.
Era: comece a ver a vida por baixo e não de cima.

Como disse, achei estranho, mas acatei. Hoje vejo o quão útil me tem sido.
As vezes a grana é pouca, o dia longo, as noites insosas e o coração abandonado. As vezes passo fome, cansado, triste e só. As me irrito e muitas vezes passo vontade de algo. Como uma mulher grávida.

Mas quando ando com apenas algumas moedas no bolso, rumo ao lanche mais próximo, encontro pessoas que só tem furos nas calças e passarão aquele dia na miséria. Sempre tem alguém num pior emprego e numa pior situação. Pessoas sem casa e sem carro.

Que por mais que eu me comova, sempre estarei aliviado por estar em melhores condições que elas.

O conselho é: Olhe por baixo!

Olhe por baixo

domingo, 25 de março de 2007

O chefe!


Outro dia, andando num supermercado vi um livro que me chamou minha atenção, pelo título. Em grandes letras lia-se: “Como trabalhar para um idiota”. Confesso que me senti tentado a comprá-lo. Mas era um pouco caro, e deixei-o na prateleira.
Quando surgiu o primeiro emprego, surgiu o primeiro chefe. Desde então, todo trabalhador sofre da crise diária de enfrentar um dragão voraz. Há vários tipos deles, que culminam no tipo único que infernizam a vida inferior.
Há terror quando chegam e alivio quando saem. Sempre estão cobrando algo, insatisfeitos. São os únicos que conseguem fazer três coisas ao mesmo tempo. Conseguem usar o banheiro (maior façanha para os homens), falar ao telefone e lembrar-se de xingar, simultaneamente. Conheci exemplares interessantes desses seres incompreensíveis. Há aqueles que dão varias ordens em segundos e esperam que você as entenda todas e que ainda, com mestria as execute, sem erros. Há os irritadiços. São traídos em casa e querem f. todo mundo no ambiente de trabalho.
Complicados, autoritários, confusos, impacientes, sempre tem um chefe louco em nossa vida. Sempre tem um chefe pra seu gosto. Conheci alguém que chamou sua secretária de viada, e outro que mendigava o pão.
Mas por incrível que pareça, essa gente chega a ser chefe. Teve ter algum motivo especial. As vezes é sorte e competência. Mas na maioria é golpe mesmo. Brincadeira. Serei chefe um dia também. É a esperança de todos. Pode o mundo acabar, em ferro e fogo. Pode a inflação e o Lula ser reeleito, mas a ânsia geral é de ser chefe um dia. Ter subordinados a sua volta. Pisar em alguém e fazer algum estagiário de bobo.
Todos temos o desejo sádico de ser chefe. Ser chefe dá dinheiro. Comprar coisas e as pessoas mais poderosas. Ser chefe é legal.
O chato é ter chefe.

Essa vai, novamente pra minha querida Arielle.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

A procura da felicidade


Ontem fui assistir o filme "A procura da felicidade", com o Will Smith. O filme que lhe rendeu uma indicação ao Oscar, embora dificilmente ele consiga apropriar-se do prêmio.
O filme é bom. Confesso que se não tivesse vergonha e um pouco de comiseração própria, teria chorado.
A película conta a história fantástica e dramática de um pai desesperado que luta pela sobrevivência sua e de seu filho de 5 anos. E a busca árdua, mas constante, da felicidade.
A história feliz ou infelizmente me fez refletir.
Sai da sala escura direto para as luzes confortadoras do shopping, no qual me dava boas vindas ao mundo real. Estava feliz por, diferente do personagem, que chegou a dormir num albergue, eu poder fazer parte desse mundo iluminado. Estava feliz pelos rostos alegres e levianos das pessoas em volta, felizes por pertencerem ao mundo do capitalismo. Estava feliz pelas cores variadas expostas nos recantos das vitrines. Estava feliz pelos manequins.
Os manequins me deixam feliz. São seres imovéis e mudos. Mas perfeitamente agradáveis. Usam sempre o melhor do estilismo e sempre, sempre, sempre estão com a roupa certa. Na medida. São musculosos e sempre tem os glúteos em harmonia com as pernas; e as barrigas de acrilíco cinza, são sempre bem definidas. Muitos deles tem rostos. Outros tem o encanto sublime de poder ser algum humano, um rosto qualquer.
Os manequins pertencem a elite. Muitos nunca serão como manequins. Receio que eu seja um deles. Muitos nunca ficarão elegantes em roupas elegantes. Muitos não ficarão bonitos em roupas bonitas. Poucos conseguirão ser como manequins.

No filme há um final feliz - não vou contá-lo - mas no shopping o começo, o meio e o fim é esplendidamente feliz. A felicidade é pop, a felicidade vende.

Vendeu a mim. Embora previnido pelo meu amigo - e futuro marketeiro - Master, acabei vitimado pela técnica precisa de uma vendendora, que me fez comprar algo eu não precisava, simplesmente. Mas eu estava feliz.
Feliz pelo filme, feliz pelo shopping, pelos manequins.
Feliz pela compra.
Feliz!

Essa vai para a minha querida e rósea Ari.elle.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

Kassab sai do buraco!


Eu tinha algo engasgado e ontem tive a oportunidade pra desabafar. Como foi do conhecimento de todos, o prefeito de Sampa, Gilberto Kassab, expulsou de um posto de saúde, aos gritos, um manifestante que protestava contra a nova lei de proibição de propaganda de rua. As câmeras registraram o polêmico momento em que o prefeito, descomposto, berrava: “Vagabundo, Vagabundo”!
A turba assistia a cena, atônita. Foi hilário. E aproveito o gancho pra desenterrar esse assunto de placas e outdoors.
Sou paulistano e a cidade está feia. Mal cuidada. É louvável a intenção do prefeito de purificar a imagem de São Paulo. Mas ele atirou pro lado errado. Existe poluição muito mais nociva nas ruas paulistanas do que as coloridas placas.
Antes da lei, cruzava a Marginal distraindo-me com os outdoors de propaganda de calcinhas e estréias de cinema. Agora, quando entro na cidade, tenho de admirar o rio poluído e a fumaça cinzenta dos automóveis
As pixações também poluem a cidade. Ninguém eliminou as pixações. Os pixadores não tiveram de retirar suas marcas grotescas e nem foram multados. A lei não contemplou os mendigos. Não que sejam poluição, mas desagradam muita gente. E afinal, nada foi previsto pra dar dignidade e amparo a esses moradores esquecidos.
Você pode andar quilômetros nas ruas de São Paulo sem encontrar uma cesta solitária e indigna de lixo. As bocas de lobo vomitam seus detritos e nas guias das calçadas, repousam toda espécie de restos e sujeira. Os parques públicos continuam infrequéntaveis. Destaque para o Pq. Dom Pedro, que cheira mal, e tem o clima de alguma favela da Somália.

São Paulo lucrava muito com os impostos das placas. Porque não utilizar esse dinheiro para encestar a cidade e abrigar os mendigos. Repaginar parques e restaurar prédios e lugares obscuros do centro velho, como a cracolândia. Ou mesmo promover uma festa de vez em quando. Construir um museu, uma praça, um monumento.......
Obs: acima a foto de um típico prédio do centro, que virou um cortiço vertical.

domingo, 4 de fevereiro de 2007

As maravilhas do mundo!


O Cristo Redentor, monumento mais famoso do Rio de Janeiro, irá confirmar nesta quarta feira sua candidatura no concurso que elegerá os 7 monumentos mais conhecidos no mundo.
Dentre os monumentos que concorrerão, estão a Muralha da China e a Estátua da Liberdade.
O resultado do concurso sai em julho, e para ser eleito o Cristo precisará de 10 milhoes de votos.


Engraçado como algumas coisas acontecem. Já perceberam que pra tudo neste mundo exite um ranking ou uma lista de vencedores. Estamos num mês agitadissímo. Mês de Oscar e de Grammy. Duas festas apoteóticas, em que alguns perdem a vida e outras a virgindade pra ganhar um prêmio.

De fato ninguém quer ficar pra tras. Nem eu. Sempre fiquei, confesso, com raiva quando conquistava o segundo lugar, ou posição inferior. Queria ser o primeiro. E sempre me esforcei. Desde pequeno, quando ainda era um inocente, ganhei prêmios e elogios! E também muitas frustrações.

Mas o povo exagera. A lista de quem come mais. De quem come menos. De quem é mais belo ou feio. A lista dos melhores e dos piores. Dos maiores e dos menores. OS americanos são especialistas em ranking. Lideram o ranking mundial nisso. estão sempre criando listas extensas pra medir a popularidade ou a riqueza de alguém. Destaca-se as revistas People, Forbes e Billboard, que elegem periodicamente as pessoas mais famosas, ricas e as músicas número um das paradas, respectivamente. Sem contar nas inúmeras premiações que proliferam na tv.

Também gosto de listas. Esses dias elegeram a música mais romântica de todos os tempos. Venceu "My Girl" - aquela que toca no "Meu primeiro amor". Pra mim seria outra, evidente. mas quem se importa?

O importante é que alguém sempre esteja em vantagem do outro, sempre no topo! Sempre vencendo!

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

A pata Highlander


Hoje uma notícia curiosa me roubou a atenção. O fato seria por demais inusitado, se não fosse verdadeiro. Segundo a reportagem que li, se for confirmado a veracidade da incrível história da pata Perky, que teria sobrevivido a um tiro de um caçador, a dois dias numa geladeira à espera de ser assada e que ainda teria sofrido uma parada cardiorrespiratória. Agora sua vida vai virar um longa metragem e chegará aos cinemas do mundo todo até julho de 2008.A já chamada de Pata Highlander, virou alvo de investigações. Foram enviados emissários à Flórida para apurar os eventos envolvendo a patinha. Também teriam sido enviado ao menos dois advogados, já que provavelmente terão de pagar pelos direitos da história tanto à família do caçador que a alvejou - e socorreu, como aos veterinários que a operaram.Perky chamou a atenção do mundo quando, cerca de 15 dias atrás, sua história veio à tona. Alvejada por um caçador em Tallahassee, na Flórida, foi dada como morta e então colocada na geladeira, onde passou dois dias ao lado de outros alimentos.Quando a mulher do caçador, não identificada, pegou a ave para depená-la e, depois, assá-la, viu apavorada que o animal ainda estava vivo. Perky havia se mexido. Desesperada, a mulher levou a pata até um hospital veterinário, onde teve de ser submetida a uma cirurgia.Segundo David Hale, veterinário-chefe, durante a operação Perky sofreu uma parada cardiorrespiratória e chegou a ter sua morte anunciada à mesa de cirurgia. Vinte segundos depois, no entanto, moveu a asa e voltou a respirar.

Infelizmente nem todos tem a mesma sorte. Humanos ou não.
Mas com certeza a vida e a história de cada um valeria um filme. Cômico ou trágico, não importa. Somos seres individuais e únicos, cujo principal artifício está em vivermos uma vida singular. E a cada segundo, um frame é gravado em nossa aventurosa película. E a cada dia, uma nova cena que ganha forma e vida!

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

O bocejo - um conto



Jogou a pituca do seu penúltimo cigarro pela janela escancarada do táxi em movimento.A madrugada avançava e seria a derradeira viagem daquela interminável noite. Alberto já contabilizara dois dias sem dormir - não tinha sono. Desde que Rosilda o deixara para viver com outra, um mês atrás, suas horas noturnas haviam se tranforamado em suplícios programados. Talvez precisasse dormir um pouco.
Tinha medo da noite e já sofrera diversas agruras: travestis enfurecidos, assaltos repentinos, sequestros a até briga de casal. Dirigia cauteloso. Na mais badalada avenida da capital paulista uma mulher em vermelho fez sinal. Entrou e limitou-se a pronunciar uma palavra: seu destino. O motorista estava alerta: mulher sozinha, bonita, alta e vestindo rubro às quatro da madrugada não era bom sinal. Entretanto, não resistiu às suas pernas e seios discretamente exibidos. Contemplativos. Era linda.
Ela segurava rijamente sua bolsa e permanecia calada, nada disse. Alberto, temeroso, sussurrava algo. Silêncio. Pelo retrovisor pôde perceber um objeto metálico no interior da bolsa da estranha. Por um instante desviou seu olhar para o rosto da mulher e nada pôde traduzir, nenhum prenúncio de assalto ou perigo. Não era dada ao latrocínio, julgou.
Fitou-a novamente e visualizou um ponto branco em seus dedos. Enfiou-os na boca asperamente. Teve a impressão, pela tênue luz que atravessava os vidros fumê de vê-la chorar. Uma lágrima solitária e dolorida. Ia inquiri-la quando fora interrompido pelo brilho súbito de uma luz a sua frente. Era a polícia. Havia sido bloqueada a via e fora obrigado a parar. A moça agitou-se. Logo ficou rubra e arfante. Parecia estar com medo, ou pior.
A mulher parecia suar e quase gritou de pavor quando soube que teriam de cruzar a barreira policial. Apertou a bolsa, como se salvasse sua vida. Retesou-se. Alberto temeu abrigar em seu táxi uma fugitiva ou uma louca. O que ela havia tomado, considerou. O que faria se a polícia encontrasse uma suicída em seu carro. Procurou seu último cigarro. Tateava, tenso, e não o encontrava. Ouviu, entretanto as batidas firmes no vidro do carro: deveriam sair.
A estranha saiu relutante do carro. De longe Alberto a observava, com atenção. Seus documentos eram checados. Tentava ler-lhe os carnudos lábios ou decrifar os movimentos. Subitamente todos os olhos tornaram para ele. Retesou-se. Os homens da lei vinham em seu encontro, a passos largos. O coração dispára. Sobe-lhe uma náusea à boca; cai o semblante. Era tarde pra fugir e não havia razão pra tal. Não se lembrava de uma. Não instante eterno que se tornou aquela cena, pensou no pior, decididamente. Cerrou os olhos, em expectação, quando ouviu o comando "vai pra casa".
Olhou pela última vez pelo retrovisor sua breve amada. E divisou-a entrar na viatura hostil. Tentou encontrar seu cigarro, em vão. Estava mais calmo, agora. Pensava no acontecido. Surpreendeu-se em suas conclusões, bocejando. Foi pra casa dormir. Estava exausto. Estava finalmente com sono. Iria finalmente dormir. Iria sonhar com ela.

segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

Eu sei que vou te amar


Ontem passou o especial do Tom Jobim. Eu sei que vou te amar.
Aguardava ansiosamente o programa. Era a chance única de ver reunido na tv, e em rede aberta, a biografia musical de um ilustre vulto do cenário artístico nacional. Após dias de intensa propaganda, tive ainda, como expurgo de meus pecados, de assistir o BBB. Uma hora de um agradável culto à ignorância popular. Era noite de formação de paredão, e os Brothers mantiam-se tensos, sendo glorificados pelas piadas compradas e suspeitas que o Bial repete a seis anos. Assisti. Confortavelmente entrelaçado nas pernas de minha irmã atenta, apreciando cada reviravolta do programa. Que variava, fatalmente, da cama, pro sofá, pra cozinha e pra piscina, sofrendo ligeira mudança, vez por outra, pro quarto da líder, que pelo o que vi, essa semana era uma loira chamada Fani. Carinhosamente ou não, Fani.
Fiquei satisfeito quando finalmente o paredão se fez. Dois condenados sofriam a alegria geral de eles serem a bola da vez, enquanto os demais desfrutavam de justificável alívio. Iria agora começar o Tom. Como sabia que um programa desse nível iria ser empurrado pra madruga, preveni-me. Dormi a tarde toda, tendo sonhos com um Rio boêmio e suas garotas míticas de Ipanema.
Durante a meia hora que se arrastou, o programa foi um desfile de grandes nomes da música mundial. De Roberto Carlos a Frank Sinatra. Todos estavam ali. O Tom parecia maior. Parecia muito mais um gênio do que a identidade esquecida que a sociedade admitiu. Pareceu muito mais interessante que nossos ídolos atuais. Ponderei que poderia haver uma tênue diferença entre o Tom e seus amigos, com os nossos amigos. Latino, Tati, K. Key, que encabeçam a lista de nossas rádios. Talvez seja apenas impressão minha, pois os tempos mudaram. Hoje a festa não é num boteco, no meneio do mar, é dentro do apê, como uma barbie girl, cantando reiteradas vezes sua melodia de amor platônico.
O programa foi bom. Diversas marcas de cigarro e um curioso cachimbo à La Roberto enfumaçaram a noite. Foi meia hora. O tempo preciso de uma vida. De alguém que o Brasil exportou para o mundo e para a eternidade. O BBB foi uma hora. Certamente o resumo de um dia na casa sugere mais conteúdo que as teclas ligeiras do piano de Tom. Ou que as canções de Tom. Que a flauta de Tom. Que a Elis de Tom. Que as garotas de Tom. Que o Rio de Tom. Que o Tempo de Tom. Que a falta de Tom.

Abaixo segue o trecho surreal de uma mente musical:


Vou te contar

Os olhos já não podem ver

Coisas que só o coração pode entender

Fundamental é mesmo o amor É impossivel ser feliz sozinho

O resto é mar É tudo que eu não sei contar

São coisas lindas

Que eu tenho pra te dar

Vem de mansinho a brisa e me diz

É impossivel ser feliz sozinho

Da primeira vez era a cidade

Da segunda o cais e a eternidade

Agora eu já sei

Da onda que se ergueu no mar

E das estrelas que esquecemos de contar

O amor se deixa surpreender

Enquanto a noite vem nos envolver

Wave