Dona Cotinha tinha por mania o hábito de contar anedotas. Um dos últimos relatos referia-se vagamente sobre o fato de o mundo se acabar. Jurara de que suas plantas emergiam alienígenas genocidas que haveriam de atacar a humanidade. Passado um mês de gritaria pelos corredores, descobriu-se que de suas violetas surgiam pulgões verdes e não aliens apocalípticos. Ainda ela dá vestígios de acreditar no Armageddon iminente, entretanto.
D.C., como foi apelidada; fazendo alusão ao caráter bélico-imperialista-catastrófico que havia em Washington (D.C) nunca tivera simpatia dos vizinhos. Certa feita afirmou que seu gato pardo, era preto. E que ele mantinha obscuras relações com a vizinha do 302. É claro que Abelardo, o marido do 302 não gostou nada da polêmica e das insinuações de pertencer a uma seita que sacrificava animais e outras formas de vida. As perjuras de Dona Cotinha contra a vizinhança tornaram-se insuportáveis. A filha do Cateto, do 210, ainda mostrava a língua e outras adjacências quando D.C. apontava no corredor.
Disseminou suspeitas ao homem de regata branca e peito depilado que visitava regularmente a moradora do 115. Nunca provaram nada. Nunca também conseguiram descobrir de onde vinha o terrível cheiro de nozes turcas que Dona Cotinha sentia sempre. O máximo que descobriram foi o cadáver do periquito amarelo que o caçula do 230 desovou havia meses. O dono do cantante pássaro, desvendado o crime tomou providências. Estilingues e armas de baixo calibre foram banidas do prédio. Seguindo-se a essa ela desenvolveu certa implicância com a barriga de Arnaldo, do 202. Além de excessivamente branca e peluda, seu abdômen possuía segundo D.C dizia: algo obsceno. Talvez fosse o recôndito do umbigo ou as dobrinhas logo acima da cintura. Terminou por expulsá-lo do condomínio.
Certo dia, convencida que de sua janela do banheiro entrava muita claridade, prejudicando o crescimento de suas violetas pulguentas, decidiu que deveria tapar o sol com a peneira. A idéia, quando foi apresentada a Rogerio Mateus, o porteiro, causou espanto e até comoção. A noticia logo se espalhou pelos interfones até o inquilino do 513 que nunca tinha sido visto, foi acionado. Muito burburinho agitou a semana e só comentavam aquilo. Todos previam algo terrível e totalmente prejudicial, de forma que foi decidido impedi-la.
Haveriam pelos métodos tradicionais ocidentais e depois pelos orientais persuadi-la a desistir da manobra de tapar o sol com a peneira. Muitas investidas e nenhum meio pacífico foi eficaz. Uns preferiram em assembléia partir para medidas mais eficientes, mas todos queriam agir na legalidade. Ficou decidido que ela deveria morrer de overdose de aspirinas. Não se reconheceu a voz que idealizou o plano – suspeita-se que foi o Abelardo, do 302 – mas logo foi sendo aceita sem protestos.
Na manha do dia que ela empunhou as telas para tapar misteriosamente suas janelas ela foi encontrada estirada, com olhos e boca abertas segurando um frasco vazio de aspirinas na mão. O sol forte entrava pelo velho e úmido banheiro doirando levemente o corpo desfalecido. Os legistas constataram que ela tomou no mínimo quarenta cápsulas de um analgésico comum. Consultados pela perícia sobre a morte suspeita de dona Cotinha, todos os vizinhos confirmaram: ela reclamava de fortes dores de cabeça; entrava muito sol pelas janelas, disseram.
Foi a última anedota de Dona Cotinha.
D.C., como foi apelidada; fazendo alusão ao caráter bélico-imperialista-catastrófico que havia em Washington (D.C) nunca tivera simpatia dos vizinhos. Certa feita afirmou que seu gato pardo, era preto. E que ele mantinha obscuras relações com a vizinha do 302. É claro que Abelardo, o marido do 302 não gostou nada da polêmica e das insinuações de pertencer a uma seita que sacrificava animais e outras formas de vida. As perjuras de Dona Cotinha contra a vizinhança tornaram-se insuportáveis. A filha do Cateto, do 210, ainda mostrava a língua e outras adjacências quando D.C. apontava no corredor.
Disseminou suspeitas ao homem de regata branca e peito depilado que visitava regularmente a moradora do 115. Nunca provaram nada. Nunca também conseguiram descobrir de onde vinha o terrível cheiro de nozes turcas que Dona Cotinha sentia sempre. O máximo que descobriram foi o cadáver do periquito amarelo que o caçula do 230 desovou havia meses. O dono do cantante pássaro, desvendado o crime tomou providências. Estilingues e armas de baixo calibre foram banidas do prédio. Seguindo-se a essa ela desenvolveu certa implicância com a barriga de Arnaldo, do 202. Além de excessivamente branca e peluda, seu abdômen possuía segundo D.C dizia: algo obsceno. Talvez fosse o recôndito do umbigo ou as dobrinhas logo acima da cintura. Terminou por expulsá-lo do condomínio.
Certo dia, convencida que de sua janela do banheiro entrava muita claridade, prejudicando o crescimento de suas violetas pulguentas, decidiu que deveria tapar o sol com a peneira. A idéia, quando foi apresentada a Rogerio Mateus, o porteiro, causou espanto e até comoção. A noticia logo se espalhou pelos interfones até o inquilino do 513 que nunca tinha sido visto, foi acionado. Muito burburinho agitou a semana e só comentavam aquilo. Todos previam algo terrível e totalmente prejudicial, de forma que foi decidido impedi-la.
Haveriam pelos métodos tradicionais ocidentais e depois pelos orientais persuadi-la a desistir da manobra de tapar o sol com a peneira. Muitas investidas e nenhum meio pacífico foi eficaz. Uns preferiram em assembléia partir para medidas mais eficientes, mas todos queriam agir na legalidade. Ficou decidido que ela deveria morrer de overdose de aspirinas. Não se reconheceu a voz que idealizou o plano – suspeita-se que foi o Abelardo, do 302 – mas logo foi sendo aceita sem protestos.
Na manha do dia que ela empunhou as telas para tapar misteriosamente suas janelas ela foi encontrada estirada, com olhos e boca abertas segurando um frasco vazio de aspirinas na mão. O sol forte entrava pelo velho e úmido banheiro doirando levemente o corpo desfalecido. Os legistas constataram que ela tomou no mínimo quarenta cápsulas de um analgésico comum. Consultados pela perícia sobre a morte suspeita de dona Cotinha, todos os vizinhos confirmaram: ela reclamava de fortes dores de cabeça; entrava muito sol pelas janelas, disseram.
Foi a última anedota de Dona Cotinha.