- Sal! Você serviu uma colher cheia de sal a um hipertenso!? Numa crise de hipertensão!
Tá certo. Eu deveria pesquisar coisas úteis na internet. Além de só ficar conversando, namorando, colecionando fofocas de famosos e amenidades, eu deveria definitivamente procurar coisas que pudessem salvar a vida das pessoas. Deveria ter pesquisado um dia: quais os malefícios do sal para uma pessoa com pressão alta; ou quais vegetais são benéficos pra hemorróidas. Coisas do tipo. Não deveria só fazer sexo virtual, o que considerei depois muito constrangedor, especialmente quando se descobre a inutilidade de se usar uma camisinha nessas relações analógicas.
Quando vi meu treinador contorcendo-se no chão, espumando como um poodle raivoso, e com ar diabólico, a única coisa sã que me veio a mente foi lhe dar uma farta colherada de sal. Instintivamente. Nem sei bem por que.
O sal já era usado há mais de 6000 anos pelos egípcios e não se comenta nenhum malefício entre eles. Só benefícios. Os romanos os usavam para pagar suas legiões e fundaram, o que no Brasil, só alimenta famintos, o salário. Foi por ele que o império otomano ruiu. (Foi?). E por causa dele que chegaram a América. Enfim, o sal é tudo nessa sociedade do prazer. Do consumo. Não importa o que queime na sua barriga. O importante é o gosto que proporcionou.
Sou apenas um bailarino e diante do ataque súbito de meu mestre, espontaneamente associei-o a um jabá. Isso mesmo, carne seca, que se conversa a sal. Não que ele se pareça com carne de sol, mas de repente funcionaria com as mesmas propriedades preservativas.
Descobri no hospital que não tinha. E pela boca voraz de uma enfermeira de meia idade, possivelmente neurótica. Ficou ali especulando. Eu respondia firmemente que não tinha motivos para matá-lo. Ele nunca me batia, ou me ofendia, nem mesmo me aborrecia. Somente seu sotaque russo me incomodava, mas não era motivo pra alardes. Neguei que ele me obrigava a fazer coisas estranhas. Eu sabia que contorcer-me e forçar-me a abrir as pernas daquela maneira era parte do seu trabalho. Neguei tentativa de assassinato, aborrecido. Uma ignorância considerada como crime. (a polícia me interrogou também).
Fiquei feliz quando ele saiu do hospital, lúcido. Não comeu nada salgado naquela semana. Não comentou nada. Somente agradeceu-me por eu ter salvado sua vida – fui eu que acionei o socorro.
Agora faço coisas úteis na net. Leio a Barsa todo dia. Hoje aprendi os 99 métodos de cortar uma cebola; três maneiras de pedir licença em turco e o nome de todas capitais do Vietnã.
Não sei se salvarão alguém. Mas é melhor que gemer virtualmente, ou ser preso.
PS.: Baseado (por incrível que pareça) em fatos reais.